Palmeira dos Índios:
o nome era muito mais bonito do que a cidade. cidade
pobre, empoeirada, poeirenta. três amigos, mochila
nas costas, descobrindo aquilo tudo. 1977. calor. pessoas
solícitas, sorrisos banguelas. restaurante de prato-feito. a
mesa: a mais nojenta de todas de todos os tempos.
parecia preta, mas não: eram moscas sobre ela, milhares,
milhares de moscas. eu comi aquela comida, nós comemos.
com nojo e com fome. eu era garoto. ainda não sabia que
aquela era a cidade de graciliano ramos. 1977. alagoas.
palmeira dos índios. que nome bonito.
pobre, empoeirada, poeirenta. três amigos, mochila
nas costas, descobrindo aquilo tudo. 1977. calor. pessoas
solícitas, sorrisos banguelas. restaurante de prato-feito. a
mesa: a mais nojenta de todas de todos os tempos.
parecia preta, mas não: eram moscas sobre ela, milhares,
milhares de moscas. eu comi aquela comida, nós comemos.
com nojo e com fome. eu era garoto. ainda não sabia que
aquela era a cidade de graciliano ramos. 1977. alagoas.
palmeira dos índios. que nome bonito.
de novo, outono
chegou o outono, finalmente. este o
primeiro domingo, a tarde ensolarada
e fria. vontade de ler, e de escrever
como os chineses. como Li Po, me imagino
bebendo à noite, na companhia, apenas,
da minha sombra e da lua cheia. das
quais me despedirei quando, embriagado,
cair no sono; mas não sem antes prometer
reencontrá-las, mais tarde, na via láctea.
domingo frio e ensolarado de outono:
melancolia e beleza,
regozijo e tristeza.
primeiro domingo, a tarde ensolarada
e fria. vontade de ler, e de escrever
como os chineses. como Li Po, me imagino
bebendo à noite, na companhia, apenas,
da minha sombra e da lua cheia. das
quais me despedirei quando, embriagado,
cair no sono; mas não sem antes prometer
reencontrá-las, mais tarde, na via láctea.
domingo frio e ensolarado de outono:
melancolia e beleza,
regozijo e tristeza.
Sexta-feira
um marcador de livros que é um mosaico de pequenas imagens de capas de livros.
uma noite de sexta-feira. é
uma noite de fim de verão e faz calor.
uma noite de sexta-feira em são paulo.
uma seleção dos poemas de montanha de meng hao-jan.
uma casa vazia. um copo de cerveja.
um cachorro dormindo no chão.
quadros na parede para os quais ninguém
olha. solidão.
uma noite de sexta-feira. é
uma noite de fim de verão e faz calor.
uma noite de sexta-feira em são paulo.
uma seleção dos poemas de montanha de meng hao-jan.
uma casa vazia. um copo de cerveja.
um cachorro dormindo no chão.
quadros na parede para os quais ninguém
olha. solidão.
Imagem: Instalação de Damien Hirst
("Vamos comer fora hoje" (1990-91), 2011,
Academia Real de Artes, Londres)
* * *
André Caramuru Aubert nasceu em São Paulo em 1961. É editor, tradutor e escritor. Já colaborou com publicações como O Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil. Atualmente é colunista da revista Trip e colaborador do jornal Rascunho, para o qual mensalmente seleciona e traduz, entre seus preferidos, algum poeta estrangeiro. Publicou, pela editora Patuá, o livro de poemas Outubro/Dezembro e, pela editora Descaminhos, os romances A Vida nas Montanhas, A Cultura dos Sambaquis, Cemitérios e, agora em novembro, Só uma estranha luz como pensamento.