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6 POEMAS DE MARIANA DE MATOS

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1
deixe que desça pelo ralo
tuas tolas melindres
desça na altura do chão
pra plantar seus delicados recados
não espere nada que não te saúde
nascerá o que para nascer tem vontade


2
caso com o passar dos anos
a poesia não te surpreenda
trate-se
como tratará a função duvidosa de seus órgãos
e a desobediência de teus sentidos
se acaso o desentendimento com o poema persistir
tema
que o que se aproxima de tu é teu fim;
poesia se faz no estômago


3
a palavra partida
atravessada em minha língua
como um peixe que te fere
mesmo fatidicamente sem vida
assim é a despedida:
uma pipa presa no galho fino
de uma árvore altíssima


4
você deve antecipar-se à queda d'água
deve resolver os problemas do corpo
levitar
você deve emancipar-se
manobrar a ira dos trovões
hastear a bandeira da conquista do sensível
diante da razão
não dever nada


5
eu fico 8 dias fora da cidade
e quando volto
você, traça
ocupa sumariamente minha sala
expulsa minhas vigentes manias e me avisa
que há erosão em toda partida


6
penso no poema
bendita reunião pontual da beleza
entendo a juventude transviada
não escrevo poema
escrevo escada




*    *    *




*    *    *





Mariana de Matos nasceu no inverno. É mineira, artista plástica e poeta. Pesquisa arte e literatura e se dedica à tradução do cotidiano pela perspectiva da poesia. É autora dos livros Pra acabar com as obras primas ou sobretudo o verso (2008), prosa e verbo / prosa e verso (2010) e Meu corpo é um esconderijo em 2014 (Ed. Penalux). Acredita na potência transformadora da arte. No futuro, quer ser uma réplica exata da natureza. Todos os poemas da presente seleta foram extraídos de seu último livro: Meu corpo é um esconderijo.



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