Quantcast
Channel: mallarmargens
Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

VIVO - UM POEMA DE ALBERTO BRESCIANI

$
0
0


Para saber se estou vivo 
acelero a respiração e a prendo 
como um rio cujas águas 
subitamente em nenhum lugar deságuam 
Abro um livro e leio o conto mais antigo 
tão antigo quanto astros cadentes 
Renovo meu terror de ovelhas 
que mesmo sem sono
nunca contei 

Para saber se estou vivo 
invento nomes e lendas fantásticas 
sobre pessoas desconhecidas
com as quais converso
Ofereço o dia à condessa de Trastâmara
enquanto ela escreve castelos
para quem chora   
ou à princesa que também é a raposa
sereia ou as uvas ou só menina 
sob um véu que a aparta ou abraça 
no fabular do papel 

Para saber se estou vivo 
fecho os olhos ao espelho 
e bato a cabeça 
até que se esqueçam as datas 
em que tudo naufragou 
quando não fui salvo dos lobos 
e quando o telefone tocou 
e a voz se apagava 
e anunciava que não mais haveria a voz 
de meu amigo morto  

Para saber se estou vivo 
deixo a barba crescer 
e me escondo em cavernas 
onde rupestre faço pinturas abstratas 
porque talvez já não tenha palavras 
e deva libertar o silêncio  
matando a golpes de lança 
cada ofensa que não quis 

E me ajoelho aos deuses 
e os reduzo por séculos 
a Um só 

Para saber se estou vivo 
arrisco a poesia um poema de amor
convite grito despedida 

Para saber se estou vivo 
eu durmo e acordo venero e espero 
a mulher que neste momento
parece sonhar sobre a minha mão
e me guarda
ainda
vivo




Alberto Bresciani nasceu no Rio de Janeiro e passou a infância e a adolescência entre o Rio de Janeiro, Paraíba do Sul – RJ e Juiz de Fora – MG. Publicou os livros “Incompleto movimento”, em 2011, e “Sem passagem para Barcelona”, em 2015, ambos de poesia, pela José Olympio Editora e Record, respectivamente. Tem poemas e contos em blogues, portais da internet, jornais e revistas especializadas.
Imagem: Edward Hopper




Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

Trending Articles