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| Ilustração: Rena Cartwright |
Mãe e menina japonesas. E a batchan.
(Provavelmente só a batchan é japonesa - mas a gente tem essa mania de julgar pelo canto do olho.)
A avó pegou outro caminho na bifurcação.
A menina gritou: “Batchan, vou chegar primeiro!” – e saiu correndo.
Ato contínuo, disparou a avó, virada em menina e, dando risada, bateu pique: chegou primeiro.
A neta ficou amuada:
-Mãe, a batchan chegou primeiro! – queixou-se.
E a mãe, com carinhosa ironia:
- Ah! Coitadinha!
***
O avô “japonês”, de uma outra família, passa de bicicleta.
Voltas e mais voltas.
Septuagenário, toca a campainha da bici: “trim-trim”.
Mesmo que não haja ninguém na sua frente insiste: “trim-trim”.
E sorri matreiro, virado em menino.
***
Outra mãe fala “japonês”.
Dois meninos por volta dos 5, cada qual em sua bicicleta.
O pai responde, em português -e orienta os meninos: “Freia! Freia!”
O grupo desliza tranquilamente sob o sol, ao embalo oscilante das bicicletas.
A mãe reitera: “Frê! Frê!”
Isso é Brasil.
PRISCILA PRADO: escritora e advogada. Finalista do Prêmio Jabuti 2013 com o livro PREGUIÇA, CORAGEM E OUTROS BICHOS (livro interativo de poesia ilustrada, 2012 - www.preguicacoragem.com.br). Publicou também: a qualquer momento AGORA (poemas, edição própria, 2005) e NO OLHO DO PARADOXO (poemas, Editora Insight, 2015).