![]() |
Ilustração: Apostolis Tsolakis |
LUZ DA FILOSOFIA
ao abrir o livro de Heráclito
um rio tempestuoso
de fogo e de incerteza
rodeia o poeta
e o poeta percebe com clareza
um rio dentro da alma
– escura correnteza de água
e de fogo
amanhece
e a fé e a certeza
penetram por um feixe de luz de Sol
(forte e profundo)
pela janela
– sem esforço
o feixe de luz ilumina a alma inquieta
qual uma borboleta
amante da luz
FASCINAÇÃO
o amor do pássaro preso no encantamento
da cobra sedutora
oferece seu olhar postreiro
palavras poderosas
qual veneno
enganam
o coração aventureiro
ela contas histórias e mentiras
e ele é aprisionado
no poço do tempo e do olvido
(como um peixe marinho
ingenuamente
sucumbe
na rede do pescador indiferente)
SOMBRAS DO INCONSCIENTE
nada fugirá de meus olhos – nada
nem o amanhecer
nem o crepúsculo
nem o rosto amado
que faz tremer o músculo cardíaco
nem o rosto odiado
gravado na penumbra
inquieta-me
um rosto acocorado
entre as sombras
como uma badalada
tocada por um demônio antigo
nascido de uma antiga paixão
(inconfessada)
O ANJO AMBIVALENTE
Um anjo desceu do lado escuro
da Lua crescente,
e invadiu meu subconsciente
enquanto eu sonhava com as areias do deserto.
Arrebatada perguntei de maneira impertinente:
- Anjo, você acha que no túmulo
acaba a vida como um sol poente?
Sua resposta foi ambivalente:
- Pode ser que a alma continue
ou desapareça no túmulo silente.
Sou um Anjo, nunca esquadrinhei
os meandros da criação divina
eu não conheço todas as respostas,
mas sou um Anjo e o mundo me fascina.
Depois, apoiou-se no zodíaco de Dendera e falou:
- A vida humana é como uma trilha na selva.
O homem é só um microcosmo e até as paixões
estão escritas com tinta nas estrelas.
São as estrelas as grandes condutoras
deste Universo de papel e fantasia
que ancora sonhos e esperança e amor e ódio e poesia.
É preciso ser um leitor das estrelas muito atento,
perscrutar o céu, contemplar auroras,
compreender os relatos mitológicos,
pensar no zodíaco, nos quadrantes,
analisar as sinastrias e os círculos astrológicos.
É preciso avançar com cautela
(calmamente)
e perseguir o rasto da sincronicidade
entre os gestos humanos e as estrelas.
Isabel Florinda Furini é escritora, poeta e palestrante; orienta oficinas de criação literária; é autora do livros de poesia Os Corvos de Van Gogh (Editora Instituto Memória) e O Grande Poeta (Editora Matrix – obra para o público infantil); colunista do jornal digital Paraná Imprensa; criadora e organizadora do Concurso Internacional Poetizar o Mundo (na 11º edição); organizou exposições de Arte e Poesia no Brasil e na Argentina; foi nomeada Embajadora de la Palabra pela Fundação Cesar Egido Serrano (Espanha), em 2015; recebeu a Comenda Ordem de Figueiró pela Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura do Brasil, em 2015.