É tarde! Amanheci sem teus préstimos de homem.
Desde ontem, busco teu nome entre meus alinhavos,
Mas nada encontro.
Eu te queria noivo, sem ter que confessá-lo.
Se tu, ido, olhas meus pés,
Hás de saboreá-los ainda nus,
Em fuga, tantos os desencantos foram.
A minha presença protegia tua solidão fingida, confessa.
Sou essa mulher de carnes que apodrecem em tentativas.
Sou essa mulher que te acolhe, antes que chegues.
Nada vistes senão outras de cobiçosos seios,
Mas era eu quem amamentava tua imagem de perfeição.
Era eu a eleita, não vistes!
Era eu a mãe! Não vistes!
Merda!
Era eu! Era eu a mulher amada, a eleita, a querida, a única.
É tarde! Ponho os caqueiros espalhados pela casa,
Assumo missas nas noites em que as dores vertem de mim,
Arrisco pistas que te percam definitivamente.
É tarde! O sono chega e eu te esqueço,
Eu te desconsolo em agonia,
E masturbo o meu sexo molhado, mole,
Clamando por machos de papel, machos de vidro,
De canavial, paisagem da estrada.
E aqui, encontras outra.
Farta da indiferença que me fez galopar tanto,
Trotando meu cavalo
Sobre espinhos rubros.
Lorca teria pena e raiva de ti!
Até hoje galopo, até hoje feneço.
Até hoje meu cavalo persegue a água, o capim.
Senhor meu noivo!
(Tratado das Veias/Selo Letras da Bahia/2006)
Rita Santana é professora, atriz e escritora. Em 2004 publica Tramela (contos) - prêmio Braskem de Cultura e Arte para autores inéditos. Em 2006 publica Tratado das Veias (poemas) através do Selo Letras da Bahia, e em 2012 lança Alforrias (poemas). Como atriz, tem experiências em teatro, cinema e televisão