Quantcast
Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

A Flecha Passa e poemas diversos - Joãozinho Gomes

Image may be NSFW.
Clik here to view.
Ilustração: Dariusz Klimczak


Reflexões da Flecha


O longe é um lugar que não existe!
Atravessei-o ontem,
e a minha ponta é a de um seio,
e a minha ponte é o infinito.
Atravessei-o ontem
                                          inverso ao teu receio,
(e não ouvi sequer um grito)
e hoje irei atravessá-lo aflito
feito os olhos do arqueiro e,
                                          os passos do proscrito.
Naquele dia a minha ponta
era um diamante; e aquele dia
                                            o meu final previsto.
Maldito!
Mal sabia que o longe é o infinito
por onde estou passando,
e que eu – infinitamente – não existo.



A Rosa de Ares


Oh, puta-mãe, quantos filhos
defloraste ao centro de Tebas
e os enviaste ao lascivo antro
do teu mortal e vão orgasmo?

O teu inútil orgasmo ao cosmos
é um cogumelo de lodo e sangue
(o caranguejo come o homem)
vingado à lama orgânica do caos!

Dessa explosão ultra vulvática
– fodam-se lesmas e musgos –
fez-se a guerra, a rosa de Ares,
a bomba, volátil como a pomba.



Velocímano


Aquiles há que lhes mostrar
o calcanhar alvejado
e contorcer-se vencido
                                      sobre o cavalo.
Mesmo que Circe o torne Sátiro
ecálcio-botas de ouro
para couraçá-lo os cascos,
rompê-los-ei impiedosa
                                       e, cravar-me-ei
aoosso, à viga que sustenta
o inabalável velocímano.



Image may be NSFW.
Clik here to view.
Ilustração: Dariusz Klimczak


Efígie


Tens no sexo o brasão do teu país
e uma beleza hábil, ilesa, Yuma,
só lhe dá tristeza e soledad este símbolo
– ícone impoluto cunhado em ti,
astro à ostra incrustado, estrela aziaga
em tua carne: e uma dor insuportável
por dentro. Choro por ti uma ou mais
vezes, Yuma, enquanto amo a efígie
em teu cerne encarnado, falo ao tesouro
sêmen amalgamado, ouro, ouro!
Tens no sexo o brasão do teu país
e uma espada aspada à alma, Yuma,
só lhe dá tristeza e soledad este lábaro
joia ardendo em ti – Ente torturado



Maldito


Para que me tenhas em ti
e a rosa sangre em minhas mãos
espremida e morta, Maldoror
mutilou-se em praça pública
à luz infernal de Lautréamont,
testículos entre os dedos, o cão
prostrou-se aos meus pés, exangue
– cobiça de abutres, o diabo!)
e, implorou que eu a violasse
para que me tenhas em ti
e a rosa sangre em minhas mãos
espremida e morta. (Maldito,
verme dos porões invioláveis! –
Estraçalha-o com teu grito!



O Impacto do Teu Coice Estremece o Infinito


Pastarás comigo neste campo
coberto de cactos, Égua de inigualável coice!
Saborearás espinhos,
                                     foi este o nosso pacto. 
                                     Que tu venhas, agora,
esplendorosamente nua,
num galope compacto ao par
com quem compactuas...
                                     saborear os cactos
                                     e, comungar comigo
aos destroços desta noite.
O impacto do teu coice estremece o infinito!





JOÃOZINHO GOMES poeta e compositor paraense – radicado no Amapá, – nasceu em 20 de outubro de 1957, na cidade de Santa Maria de Belém do Grão Pará. Iniciou suas atividades poética e musical na década de 1970. Em época atual, reconhecidamente como um dos mais férteis poetas-letristas da sua geração, Joãozinho Gomes ostenta uma obra que agrega parceiros – compositores e poetas – de várias regiões do Brasil, entre os quais, nomes famosos da musica e da literatura brasileira. A sua produção poética e musical consiste em aproximadamente mil canções e, cinco livros, da qual, cerca de duzentas canções foram gravadas por seus respectivos parceiros e, apenas um livro fora editado, A Flecha Passa e poemas diversos; assim sendo, somente vinte por cento de sua extensa obra está publicada.

Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548