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4 poemas de Marta Miranda - tradução de Luciana Cañete

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Ilustração: Luigi Rubino



No recuerdo la sonrisa de mi padre

Aunque la enfermedad lo devoraba
siempre ponderé
la belleza de mi padre:
sus grandes ojos
sus manos alargadas
el aire irónico con que miraba el mundo

Desde su silla de ruedas
si alguien cometía una torpeza,
cosa frecuente dado el lugar
las circunstancias,
si me miraba en esas circunstancias
sonreía calladamente
yo tomaba ese gesto como una señal de bienvenida,
de ser parte de su mundo

Sin embargo
no recuerdo su sonrisa, digo,
lo material
de su sonrisa

¿Sus dientes eran amarillos
o parejos?
En el recuerdo
la sensación es de felicidad
pero la imagen congelada
al mirarme
es la sonrisa que ofrecemos al perro abandonado
que al cruzarnos en la calle nos sigue
mueve la cola, no nos muerde

Creo que es suficiente
con saber que mi padre sonreía
más allá del recuerdo
para poder creer en la regla de bondad
de todas las sonrisas
de todos los perros
de todos los padres de este mundo


Não recordo o sorriso de meu pai

Ainda que a doença o devorasse
sempre exaltei
a beleza de meu pai:
seus grandes olhos
suas mãos alongadas
o ar irônico com que olhava o mundo

De sua cadeira de rodas
se alguém fazia uma besteira,
coisa frequente dado o lugar
as circunstâncias,
se me olhava nessas circunstâncias
sorria caladamente
eu tomava esse gesto como um sinal de acolhimento,
de ser parte de seu mundo

No entanto
não recordo seu sorriso, digo,
o material
de seu sorriso

Seus dentes eram amarelos
ou uniformes?

Na recordação
a sensação é de felicidade
mas a imagem congelada
ao me olhar
é o sorriso que oferecemos ao cachorro abandonado
que ao cruzar com a gente na rua nos segue
abana o rabo, não nos morde

Acho que é suficiente
saber que meu pai sorria
além da recordação
para poder acreditar na regra de bondade
de todos os sorrisos
de todos os cachorros
de todos os pais deste mundo

***


Cenizas

Las cenizas del volcán
hicieron que todo
se convirtiera en sombra
estatua colosal
que iba esculpiéndose con lentitud
a cada respiro de la boca

Vos y yo
lo vimos por tv

igualmente
y aunque lejos
a miles de kilómetros de allí
una nube espesa
entró en la casa
cubrió la foto
de tu cara junto a la mía

y allí quedó

la ceniza, el gris
el peso de las cosas
nos ahogaron
hasta volvernos sombra


Cinzas

As cinzas do vulcão
fizeram com que tudo
se convertesse em sombra
estátua colossal
que se foi esculpindo com lentidão
a cada exalar da boca

Eu e tu
vimos pela tv

igualmente
e mesmo longe
a milhares de quilômetros dali
uma nuvem espessa
entrou na casa
cobriu a foto
da tua cara junto a minha
e ali ficou

a cinza, o cinza
o peso das coisas
nos afogaram
até virarmos sombra

***


Axis mundi

Oscura
la noche vive en tu corazón
que no me ama
a cambio
me ama tu sexo
y él me da la miel de todas las abejas

aunque no me ames
está en mí
la razón de tu órbita
porque soy
la porción del mundo
que nunca
podrás ser

la caverna
oscura y húmeda
el ojo de agua
que te mira
y te revela


Axis Mundi

Escura
a noite vive em teu coração
que não me ama
em troca
me ama teu sexo
e ele me dá o mel de todas as abelhas

mesmo que não me ames
está em mim
a razão de tua órbita
porque sou
a porção do mundo
que nunca
poderás ser

a caverna
escura e úmida
o olho d’água
que te olha
e te revela

***


Duda


Mi vida cabe en dos bolsas
dijo el asesino cuando lo trasladaban
al corredor de la muerte

Miro el bolso pequeño
que preparé para ir a verte, me pregunto
qué tuve que matar
para hacer este viaje


Dúvida

Minha vida cabe em duas sacolas
disse o assassino quando o transferiam
ao corredor da morte

Olho a bolsa pequena
que preparei para te ver, me pergunto
o que tive que matar
para fazer esta viagem


Poemas: Marta Miranda
Tradução:Luciana Cañete




Marta Miranda, nasceu em Mendonça, Argentina. Publicou os livros de poemas Mea Culpa(Nusud, 1991), El Oleaje (Nusud, 1998), La misma piedra (Ediciones Del Dock, 2004), Nadadora (Bajo la Luna, 2008), El Oleaje y otros poemas, antologia bilingue (Ruinas Circulares, 2013), Antología(Cuadernos Amerhispanos, México, 2013), El lado oscuro del mundo(Bajo la Luna, 2015). Foi traduzida para o francês, catalão, alemão, inglês e croata. Coordena, junto com o escritor Ricardo Rojas Ayrala, o VaPoesía Argentina – Festival Internacional.


Luciana Cañete é poeta, tradutora, intérprete e mãe. Formada em Letras Português/Espanhol pela UFPR e pós-graduada em Tradução pela Universidade Gama Filho. Tem um livro publicado Meu coração bate e às vezes me espanca (Multifoco, 2009)e poemas na antologia 29 de abril : o verso da violência (Editora Patuá, 2015) e na antologia de 5 anos do Jornal Relêvo2015 além de poemas publicados diversos sites e blogs.

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