A MAMBA ESFOMEADA
Subirás pelas paredes rubras deste quarto antigo,
A mamba esfomeada não se ocupará de meras lagartixas,
não escaparás da lisa espécie, do longo ofídio
em que tornaste a minha língua, ao pôr-me a respirar
ao ar salobro deste outubro antro; a toxina do teu sexo!
A esta língua não há fuga, raríssima jia, há magia:
o bote, o coaxar gozoso,
a zonza asfixia, (ávido batráquio, ágil, traquino!).
Subirás pelas paredes rubras deste quarto antigo,
A mamba esfomeada encurralar-te-á à dança das orgias
e a salivará. O teu coaxo eterno excitará o mundo...
MAGNÍFICA FINCADA
Tardiamente o sol se pôs àquela tarde
e só se pôs após eu pôr-me em ti;
quis o sol
olhar a magnífica fincada e, fim.
Cada passo nosso aos degraus da
gris escada,
abrasava-o
de tal forma a prolongar o dia.
O quarto de bambu e vidro e malva
à alva tarde reluzia,
(brasa apraz a corpos crus, nós, nus)
quisemos noturna ao inflamado
antro a difamada orgia: para tanto
eu&tu
excitamos o fulgor das três-marias
– no que nos tocamos –
e as trocemos ao pomposo antro
e entre gozo e sus pirante pranto
as des-tro-ça-mos...
somos desastrosos
quando nos amamos: sorvemo-nos,
mamamo-nos, só vemos nós; e nus,
ouvimos hinos se nos
devoramos,
de vera oramos se ouvimos sinos,
e sinuosos à solar espanto nos insinuamos...
ESPADACHIM PERFEITO
Sobre esta mesa desta taberna imunda te possui:
depois no cais, depois nos becos, depois a cada canto
deste vilarejo, e por fim, ao muro do mosteiro.
Lembras o som do realejo arranjando os teus gemidos
úmidos aos meus beijos? O ubre dos teus seios
híbridos ainda vibra às ferragens do meu peito,
e a minha língua ainda exalta a sua esgrima:
– o teu clitóris fez-se um espadachim perfeito!
Sobre esta mesa desta taberna imunda te possui!
Posso ir, agora? Ou queres que eu te coma como fiz
outrora: em cima desta mesa porca, sobre a ceia parca
desta suja horda? Ordena-me e te despe: eu tenho
azeite em meu alforje, ou queres cuspe? Ou o óleo
a ungir aquele peixe? Ou a gosma deste albume?...
A ODE ONDE EU GALO
Aquele dia, Lídia, a li – diáfana poeta
das fonas finas fodas – às bodas de marfim
as quais comemoravas a gozos com teu
centésimo marido.
Adiei a foda a dá com Ifigênia
para lê-la paralela a nona foda nossa:
foi como dá vinte
com Afrodite e Gioconda de Da Vince
em vinte deste mês agora, deste outubro
em que Ágora
masturba-se à bacia de Baco,
e à turba mostro o mastro que ao triscares
flambe a aurora.
Ora à grande falofórias que a ti promovo
agora, eriçando-me, e duro, intumescendo-te
os pomos sagrados que se agregam
aos meus vícios todos.
Àquele dia, Lídia, a li ali onde Lia lia o Dez¹
– antes de dá-se ao deus –
à moita onde amei-te
entre ramos de bromélias e olivas e azeite:
li-te como quem bebe leite, a lactar-me
aos teus poemas sujos cujos sou o enfeite.
O que fala que enfiei-te o falo e fiz-te suspirar
Em suspirante halo; ah! Lídia,
este é o meu deleite, a ode onde eu galo.
¹MOURA Antônio. Ed. Supercores, Belém-Pa, 1996.
PICOS MARMELADOS
Par de seios de mulher caboca, pardos
seios que anseio-os à minha baca boca;
asseio-os à saliva lava ali na sala oliva
lá no Bar Caboclo. A minha baba os lava:
lambo-os aos poucos, lambuzo-os, uso-os
abuso-os, babo-os oh búzios!... babujo-os
em busto bajulado sob abajures e juras
de amores jubilados, entre gírias e injúrias,
entre lábios abusados. (alpes em luxúrias,
picos marmelados) Par de seios pardos
de mulher caboca, cá baba a minha boca!
Baca boca que os abraça e não há dabra
que a abra quando aos ubres se coloca
e neles baba, e neles mama, e os ensopa...
A SEDE DA DEUSA
Bebe vinho Afrodite! A flor de ti? Acredite,
perfuma o mar.
– Omar veleja a inalar almíscar, e cá,
Almir a mirra e resedá)
Bebe vinho Afrodite e, me dá... o teu perfume?
Acredite, é manacá, é manacá e emana cá
onde te espero em riste à sombra do vespeiro onde
te inspiras a gozar!
Bebe vinho Afrodite e, vem cá: assenta-te
em mim em riste,
– copulosa deusa – e dança a densa
valsa que impuseste a Bach:
e baba em teu bebê, e bebe em teu babá a lava que
a ti vier lavar.
Bebe vinho Afrodite! Bebe já! A tua sede?
Acredite; é a fonte onde o poeta bebe o mar.
JOÃOZINHO GOMES poeta e compositor paraense – radicado no Amapá, – nasceu em 20 de outubro de 1957, na cidade de Santa Maria de Belém do Grão Pará. Iniciou suas atividades poética e musical na década de 1970. Em época atual, reconhecidamente como um dos mais férteis poetas-letristas da sua geração, Joãozinho Gomes ostenta uma obra que agrega parceiros – compositores e poetas – de várias regiões do Brasil, entre os quais, nomes famosos da musica e da literatura brasileira. A sua produção poética e musical consiste em aproximadamente mil canções e, cinco livros, da qual, cerca de duzentas canções foram gravadas por seus respectivos parceiros e, apenas um livro fora editado, A Flecha Passa e poemas diversos; assim sendo, somente vinte por cento de sua extensa obra está publicada.