Quantcast
Channel: mallarmargens
Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

Quase-prosa - Diego Callazans

$
0
0
Ilustração: Matt Grandy



[quase-prosa]

te querem reto, poema.
em versos sem retoque
nem torque de seis pés.

sem alusões cadentes
nem sinuosos flertes
cõ'o que fugir lhes possa.

sem o que ostente marcas
de repúdio ao tácito.
nem o que aponte o vácuo

nos confins do delírio.
constatar, sem soslaios;

que para além não miram.




[anseio]

não trava o tanque o sentido.
nem toca a trompa a razão.
a voz não vale de escudo.
não vence a guerra a verdade.

a mente, porém, persiste,
enquanto o corpo perece.
o verme celebra a ceia,
a vida veleja ideias.

sussurros derrubam muros.




[manhã]

no aconchegante Marlboro
a remembrança se arvora.

sob este incenso de trégua,
a língua dormente espasma.

meus pensamentos de pé:
o vento invade o varal.

na identidade da corda,
tua toalha ainda mora.




[Eros]

flertei com o Caos na fila da van.
troquei afagos com o Infinito.

vivi dez meses no apê da Insânia.
o Abismo não me retornou os gritos.

um dia o Nada falou que sou lindo.
a Morte enfim me chamou pra dançar.




[ébrio]

estranha beleza a tua:
camelô sem armazém,
que nas esquinas suadas
falseia odes olentes.

estranha beleza a tua:
traço que se impõe à borra;
porvir que a verdade aguarda,
de etéreos lírios forrada.

melancolia apátrida,
esta tua beleza estreita,
que enleio à janela tange.

halali de infantil pária
a um aro de amor-perfeito
sobre um semblante de mãe.




Diego Callazans nasceu em Ilhéus (ba) em 1982 e mora em Aracaju (se) desde criança. É autor de A poesia agora é o que me resta (Patuá, 2013), Blasfêmias(7 Letras, 2015) e Nódoa (7 Letras, 2015). Tem poemas publicados em diversas revistas literárias.

Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548