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Slow food - Chris Herrmann

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Ilustração: David Richards


Os florais de bárbara

na alma
rosa de hiroshima
no coração
magnólia
nos olhos
erva doce
na boca
dente de leão
no palco
comigo-ninguém-pode
nas mãos
as palmas



Instação

veja bem,
em algum lugar
entre o outono
e a primavera
há uma saudade
invernal de final
de estação
que somente
estes meus olhos
cansados sem ti
(vi)verão



A tez do ouro

tropecei em mil pedras
na caça ao tesouro
muitas me cortaram
ou me bloquearam
o caminho
desisti da caça
e seus olhos de touro
mas fiquei lembrando
de algumas que
tropeçaram em mim
silenciosas, eu mal
notava sua superfície
delicada
chamei-as mais tarde
de felicidade
preciosas, hoje elas
reluzem a tez
de alguma lucidez
no meu olhar



Slow food

quando criança
sonhava com monstros
que queriam me devorar
hoje, velhos amigos,
sentam-se comigo
à mesa


Ilustração: David Richards


O candelabro

dos castelos
sem príncipes
so(m)brou-lhe
a imponente
testemunha
empoado,
o candelabro
a velava



Instância

na primavera
da minha infância
não aspirava
o cheiro das
impermanências
hoje, sua instância
me girassol
e seu perfume
jasmin



Vira-casaca

um minuto
da sua
presença
e lá se vão
meus ideais
políticos
entrego
o ouro aos
bandidos
pago
juros de
mora
e me sinto
em estado
de graça



Nocturna

vestiu
dessous
opacos
ajeitou
o retrato
falado
à beira
do criado
mudo
acendeu
as sombras
do abajour
e deitou-se
com a
saudade




Chris Herrmann (Christina Magalhães Herrmann) é musicista, editora e poeta carioca naturalizada alemã. Reside na Alemanha desde 1996. Estudou literatura na UFRJ; música e piano no CBM-RJ e Webdesign na Uni Carioca. É pós-graduada em Musikgeragogik (educação musical & musicoterapia para idosos, pessoas especiais e pacientes de Alzheimer) pela Universidade de Münster, Alemanha. Participou de diversas publicações de poesia no Brasil, Espanha e Estados Unidos. Criou as capas, organizou e lançou em parceria com o CBP em 2006 e 2007, cinco antologias de poemas de suas comunidades virtuais. Publicou a coletânea de 178 haicais Voos de Borboleta prefaciado por Leila Míccolis em 2009 pela editora Protexto, com segunda edição digital TUBAP, 2015. Criou a capa, prefaciou, participou como poeta e foi uma das organizadoras do livro digital Sobre Lagartas e Borboletas, TUBAP, e impresso pela Scenarium, 2015. Lançou também em 2015 o livro Na Rota do Hai y Kai, uma coletânea de 50 haicais, com traduções para o espanhol e ilustrações do artista chileno Leo Lobos. Criou o selo TUBAP em parceria com Adriana Aneli. É uma das editoras de Tempestade Urbana e editora-fundadora de Boca a Penas.

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