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http://acarauprarecordar.blogspot.com.br/2011_02_20_archive.html |
La nuittesyeux se perdent
pourjoindrel’éveilaudésir
- Nusch, Paul Éluard
a noite
da tua pálpebra
cerrada me encerra
brota leões de pedra
na areia, que engolem
a noite real.
na tua pálpebra
desperta, cripta-á-
guia a furar o ar -
águias que fogem
dali.
Fatias de areia e mar
como um turbante
envolvem tua cabeça
O que resta
do teu rosto
é o som finíssimo
das asas do moleiro sobre o sal
Fatias de areia e mar –
mergulho, caça, ressaca.
¹Bombyx mandarina
em gênese
no meu olho
duas granadas de seda
depositando
nascendo
das coisas onde pousa
² cheiro a vibração do
mar brotando das paredes.
as curvas do sol
larvas no mar,
‘a seda em cima
Na praia
a areia se derrama
branca e cega, como
um mar de barba alva
a barba de Karl Marx, na
foto do livro que lias
à tarde
o vento afugenta os roncos
da morte – do medo da morte
chove, e no leito do horizonte sumido
um barco corta a camada de invisível
e um pensamento preguiçoso vai atrás
A lua selvagem
aparece entre teus
dedos:
paramos certeiros
na praia de névoa espessa
espaço das horas da noite.
deitamos nas dunas
como se ancorássemos na corcova
dum camelo –
bebendo treva e sonhos, víamos
do alto o mar que calava o desejo
de partir:
Deu a hora; é tarde.
Alguém se lembra de casa.
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Maurício Borba Filho, nascido em Belém-PA, 1992. Seu primeiro livro, modos, foi selecionado em 3º lugar no Prêmio de Poesia Belém do Grão Pará, edição 2014.
Contato – mauricioborba132@hotmail.com