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5 poemas de Isabel Furini

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Ilustração: Apostolis Tsolakis



QUETZALCOATL

uma emoção violenta quebra
a espessura das máscaras
no teatro de sombras da alma
vemos nosso eu como Quetzalcoatl viu o seu...
(quase monstruoso)
e novamente
jogamos o eu instintivo no umbral do esquecimento
colocamos a máscara e (como pessoas bem resolvidas)


  sorrimos



MAGNUM OPUS

o poeta faz acrobacias nos trapézios de arqueológicos alfabetos
coloca emoções ideias palavras afetos conceitos
no alambique do coração
constrói um atanor de versos na cabeça
reinventa rimas
estuda fórmulas antigas da alquimia
mergulha na subjetividade para escrever e para sobreviver

todos os poetas
(admirados –  portentosos – ignorados ou desprezados)
todos os poetas fazem parte de uma espécie de seres muito estranhos
poetas sãos seres mutilados
pois para realizar a Magna Obra
não é suficiente poetizar oceanos
nem perseguir os voos dos urubus
nem misturar o sal o mercúrio e o enxofre
nem dançar entre as plantas de bambu
é necessário devastar o próprio coração desamparado
com o poder do veneno da cobra real
reerguer-se das sombras do mundo astral
e nutrir-se do coração do nada

o poeta precisa socavar o próprio coração
(mantendo o oceano do amor inalterado)
para realizar a Obra Magna



ESPELHO DO EU

tocam os sinos dos dias fictícios
procuramos nossa imagem no espelho do labirinto
afastamos os louros superficiais da vitória
e contemplamos no próprio coração a luz e a escória

como se fossemos seres clandestinos
permanecemos na caverna do isolamento
respirando as toxinas do passado
(o fluir dos acontecimentos
deixou sal e fel nos espelhos)

desenhamos os dados biográficos
nas asas das borboletas
e percebemos as fronteiras das imagens
construídas sobre rochas de emoções
e impressas nas páginas de um álbum fotográfico



POESIA

os poemas impulsionam sonhos
alimentam as almas dos dragões
quebram antigos espelhos
invadem sentimentos no quadrante das ilusões
alagam os jardins para que as flores
naveguem em barquinhos de papel

gravam nas pedras do labirinto
textos sibilinos
escritos com  o sangue envenenado do mundo globalizado

(choram as Musas
e chora  o Minotauro no labirinto das palavras)



OPOSIÇÃO

um sim e um não
opostos caminhos sem perdão

firme
incólume
fixa seus olhos ferozes em meus olhos
e arquejam as horas
estilhaçam-se as palavras
e o silêncio da sala se torna
inóspito.  




Isabel Florinda Furini é escritora, poeta e palestrante; orienta oficinas de criação literária; é autora do livros de poesia Os Corvos de Van Gogh (Editora Instituto Memória) e O Grande Poeta (Editora Matrix – obra para o público infantil); colunista do jornal digital Paraná Imprensa; criadora e organizadora do Concurso Internacional Poetizar o Mundo (na 11º edição); organizou exposições de Arte e Poesia no Brasil e na Argentina; foi nomeada Embajadora de la Palabra pela Fundação Cesar Egido Serrano (Espanha), em 2015; recebeu a Comenda Ordem de Figueiró pela Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura do Brasil, em 2015.

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