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llustração: Hellos and Goodbyes |
ela mesma, a Poesia
é despertar e enxergar além de o ou a
visão audição olfato tato paladar.
entregar-se para o sentir e perceber.
a Poesia é aprofundar-se
e procurar em si palavras
e substitui-las substituí-las substituí-las
perdê-las e insistir em
re e construir até que
perfeitamente.
e cuspir sem silêncio o que
a Poesia.
cuspir sem silêncio
e não implorar ouvintes
mas quando
seduzir e penetrar e abusar
porque a Poesia é
acariciar todo o sofrimento em
não esquecer a obrigação de
unir-versos.
sobre você no hospital, às 20:48
a palavra não é querer
é precisar
me livrar
desse medo de te perder
de repente
poupar sentimento
- mesmo quando dentro de mim
bagunça aquela
ideia fixa
(a falta de acento
me faz pronunciar rígida
como não fosse rigidez a)
: morte
o silêncio você rompe
você tem cheiro de fumaça
desperto
eu sei
cigarros são instantes
awayfromyou
mas digo
eu tenho cheiro de fumaça
agora
emergência
seu traje branco
e as paredes
obrigam a calma
quando me desejam
trágica
- ardentemente trágica
porque não basta o dentro
deve haver lágrimas
muitas
mas para eles
você entende
sempre para eles.
preciso lamber meus filhos
antes que seja tarde, mãe.
(antes que seja tarde,
preciso lambê-los.)
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llustração: Hellos and Goodbyes |
sobre mar de carne e osso
ele contorna meu corpo com o seu
por instantes é mar:
água e sal
- não só os olhos desse azul
que acinzenta-se quando tempestades
atrás de lentes escuras.
vertigem e me entrego
- sei a impossibilidade
de avessar naturezas conturbadas:
não há margem ou poro desafetado
pela penetração
perturbação de língua respiração e pelos
ávidos por afogar sentimentos
barriga dentro e fora
então acredito em qualquer gota antes
como prenúncio de essa inundação
porque toda água nasce e vibra
invasão apenas
para após refluxo, a distância.
furto
não notei quando me furtei.
amor foi embora, mas
pode devolver minhas palavras?
até só restar o depois
sobre o dia 29 de abril de 2015, em Curitiba.
pudesse,
recordaria se havia sol
antes daquela tarde
quando tudo se resumiu a
cinza:
fumaça, um
quase
aquele estado de consciência frágil
entre estar acordado &
desmaiar.
pudesse,
recordaria o cheiro
antes daquela tarde
quando tudo se confundiu a
gás
pólvora
sangue.
recordaria quais eram
minhas atividades inúteis
antes de acessar a internet&
navegar entre as notícias
para descobrir o alvo
dos helicópteros que
sobrevoavam a cidade
destruindo
destruindo
destruindo
qualquer segundo
de silêncio
inibindo os gritos
pudesse,
eu recordaria o antes:
quando não havia escombros.
Lubi Prates: nasceu em 86, em São Paulo. Estudante de Psicologia. Tem publicado o livro coração na boca (Editora Multifoco, 2012) e algumas participações em revistas e antologias literárias nacionais e internacionais. Escreve no blog coração na boca. Edita a Parênteses, revista literária virtual, e traduz. Vive em Curitiba.