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5 poemas de Lubi Prates

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llustração: Hellos and Goodbyes


ela mesma, a Poesia

é despertar e enxergar além de o ou a
visão audição olfato tato paladar.
entregar-se para o sentir e perceber.
a Poesia é aprofundar-se
e procurar em si palavras
e substitui-las substituí-las substituí-las
perdê-las e insistir em
re e construir até que
perfeitamente.
e cuspir sem silêncio o que
a Poesia.
cuspir sem silêncio
e não implorar ouvintes
mas quando
seduzir e penetrar e abusar
porque a Poesia é
acariciar todo o sofrimento em
não esquecer a obrigação de
unir-versos.




sobre você no hospital, às 20:48

a palavra não é querer
é precisar

me livrar
desse medo de te perder
de repente
poupar sentimento

- mesmo quando dentro de mim
bagunça aquela
ideia fixa
(a falta de acento
me faz pronunciar rígida
como não fosse rigidez a)
: morte

o silêncio você rompe
você tem cheiro de fumaça
desperto
eu sei
cigarros são instantes
awayfromyou    
mas digo
eu tenho cheiro de fumaça

agora
emergência
seu traje branco
e as paredes
obrigam a calma

quando me desejam
trágica
- ardentemente trágica

porque não basta o dentro
deve haver lágrimas
muitas
mas para eles
você entende
sempre para eles.

preciso lamber meus filhos
antes que seja tarde, mãe.

(antes que seja tarde,
preciso lambê-los.)



llustração: Hellos and Goodbyes


sobre mar de carne e osso

ele contorna meu corpo com o seu
por instantes é mar:
água e sal
- não só os olhos desse azul
            que acinzenta-se quando tempestades
atrás de lentes escuras.
vertigem e me entrego
- sei a impossibilidade
de avessar naturezas conturbadas:
não há margem ou poro desafetado
                        pela penetração
perturbação de língua respiração e pelos
ávidos por afogar sentimentos
                        barriga dentro e fora
então acredito em qualquer gota antes
como prenúncio de essa inundação
porque toda água nasce e vibra
                        invasão apenas
para após refluxo, a distância.




furto

não notei quando me furtei.

amor foi embora, mas
            pode devolver minhas palavras?




até só restar o depois
sobre o dia 29 de abril de 2015, em Curitiba.

pudesse,
recordaria se havia sol
antes daquela tarde
quando tudo se resumiu a
cinza:

fumaça, um
quase

aquele estado de consciência frágil
entre estar acordado &
desmaiar.


pudesse,
recordaria o cheiro
antes daquela tarde
quando tudo se confundiu a

gás
pólvora
sangue.


recordaria quais eram
minhas atividades inúteis
antes de acessar a internet&
navegar entre as notícias

para descobrir o alvo
dos helicópteros que
sobrevoavam a cidade

destruindo
destruindo
destruindo

qualquer segundo
de silêncio

inibindo os gritos


pudesse,
eu recordaria o antes:

quando não havia escombros.




 
Lubi Prates: nasceu em 86, em São Paulo. Estudante de Psicologia. Tem publicado o livro coração na boca (Editora Multifoco, 2012) e algumas participações em revistas e antologias literárias nacionais e internacionais. Escreve no blog coração na boca. Edita a Parênteses, revista literária virtual, e traduz. Vive em Curitiba.



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