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Ilustração: Mckay/deviantART |
[Não é]
A gente perde o time.
Perde o feeling das coisas.
Evita.
Perde a oportunidade de ser cobertor.
E se descobrir, talvez.
A gente perde os sinais.
Vacila.
- A gente não age -
Aí, a gente sente.
E a gente se arrepende.
Porque a gente teima
no medo de se sentir invadido
se esquece de se sentir habitado.
Então a gente vai embora
e depois, a gente lamenta
no quarto
, em casa,
quando já não há mais ninguém para ver aquela lágrima.
Muito menos olhar nos seus olhos.
A gente sou eu.
É você.
E isso não é um poema.
(Do livro Longi-tudo, no prelo, ed. Patuá. Anteriormente publicado na antologia “É que os Hussardos chegam hoje”, ed. Patuá, 2014)
[Vol.ver]
Quando me pego pelas mãos
a sair sem rumo
e a cada passo, passar um futuro,
um volume qualquer me atinge as costas
e abre,
objetivamente,
um furo.
Suponho um tiro,
um ataque político
ou uma flecha indígena, ao acaso;
Penso em uma guerrilha urbana,
na violência do amor
ou em qualquer outro objeto pontiagudo.
Viro meu olhar,
a procurar a origem do disparo.
Não vejo um inimigo outro:
Desta vez, me deparo
com um exército,
formado
pelas armas
dos meus próprios rastros.
(Do livro Colírio, ed. Patuá, 2011)
[Desesperar]
...e seguir com os gravetos
a fim de fogo,
ou não
(só não suporto mais
usar a mesma blusa).
Talvez com meu isqueiro,
ascender a chama ao céu.
É bom preparar o cinzeiro:
ao léu,
todo abrigo é ermo.
(Do livro Longi-tudo, no prelo, ed. Patuá)
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Ilustração: Mckay/deviantART |
[Mística]
Há necessidade nisso tudo:
de se fazer ver
ou tentar ver o que se vai fazer.
E tentar é atribuição dos demônios!
Não que se acredite em mitos,
mas, se minto
(ou finjo o que sinto),
é por tentar trazer um traço de realidade perdido
no que não se explica
onde eu me imagino.
Para o meu amigo Eduardo Lacerda
(Do livro Longi-tudo, no prelo, ed. Patuá)
[Colírio]
Se destes pingos em cada olho
ao menos a cura...
Se depois de abri-los,
lubrificados agora
e capazes de ler uma nova história,
viesse, de fato, uma nova...
Mas,
ainda que os olhos ouçam
a fala que a conta,
inquirem que nitidez há
na distinção entre a
realidade& a dicção.
Não sabemos se a voz (over)
do conta-gotas
remedia ou maltrata.
– presente –
indagam:
que nitidez há
na distinção entre as
composições do colírio e da lágrima ?
(Do livro Colírio, ed. Patuá, 2011)
Israel Antonini é natural de Osasco. Publicou em 2006 o livro identidad&plural (independente) e, pela Editora Patuá, o livro Colírio (2011). É contrabaixista da Euphúria. Atualmente divide seu tempo entre o funcionalismo público, imagens, música, amor e amizades.