Quantcast
Channel: mallarmargens
Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

5 poemas de Israel Antonini

$
0
0
Ilustração: Mckay/deviantART



[Não é]

A gente perde o time.
Perde o feeling das coisas.
Evita.
Perde a oportunidade de ser cobertor.
E se descobrir, talvez.
A gente perde os sinais.
Vacila.

- A gente não age -

Aí, a gente sente.
E a gente se arrepende.

Porque a gente teima

no medo de se sentir invadido
se esquece de se sentir habitado.

Então a gente vai embora
e depois, a gente lamenta
no quarto
, em casa,
quando já não há mais ninguém para ver aquela lágrima.
Muito menos olhar nos seus olhos.

A gente sou eu.
É você.

E isso não é um poema.

(Do livro Longi-tudo, no prelo, ed. Patuá. Anteriormente publicado na antologia “É que os Hussardos chegam hoje”, ed. Patuá, 2014)



[Vol.ver]

Quando me pego pelas mãos
a sair sem rumo
e a cada passo, passar um futuro,
um volume qualquer me atinge as costas
e abre,
objetivamente,
um furo.

Suponho um tiro,
um ataque político
ou uma flecha indígena, ao acaso;

Penso em uma guerrilha urbana,
na violência do amor
ou em qualquer outro objeto pontiagudo.

Viro meu olhar,
a procurar a origem do disparo.

Não vejo um inimigo outro:

Desta vez, me deparo
com um exército,
formado
pelas armas
dos meus próprios rastros.

(Do livro Colírio, ed. Patuá, 2011)



[Desesperar]

...e seguir com os gravetos
a fim de fogo,
ou não

(só não suporto mais
usar a mesma blusa).

Talvez com meu isqueiro,
ascender a chama ao céu.

É bom preparar o cinzeiro:

ao léu,
todo abrigo é ermo.

(Do livro Longi-tudo, no prelo, ed. Patuá)



Ilustração: Mckay/deviantART


[Mística]

Há necessidade nisso tudo:
de se fazer ver
ou tentar ver o que se vai fazer.

E tentar é atribuição dos demônios!

Não que se acredite em mitos,
mas,    se minto
(ou finjo o que sinto),
é por tentar trazer um traço de realidade perdido

no que não se explica

onde eu me imagino.
Para o meu amigo Eduardo Lacerda


(Do livro Longi-tudo, no prelo, ed. Patuá)



[Colírio]

Se destes pingos em cada olho
ao menos a cura...
Se depois de abri-los,
lubrificados agora
e capazes de ler uma nova história,
viesse, de fato, uma nova...
Mas,
ainda que os olhos ouçam
a fala que a conta,
inquirem que nitidez há
na distinção    entre a
realidade& a dicção.

Não sabemos se a voz       (over)
do conta-gotas          
remedia ou maltrata.

No final, ao tempo-hoje
– presente –
indagam:
que nitidez há
na distinção       entre as
composições do colírio e da lágrima ?

(Do livro Colírio, ed. Patuá, 2011)



Israel Antonini é natural de Osasco. Publicou em 2006 o livro identidad&plural (independente) e, pela Editora Patuá, o livro Colírio (2011). É contrabaixista da Euphúria. Atualmente divide seu tempo entre o funcionalismo público, imagens, música, amor e amizades.

Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

Trending Articles