Café
a solidão põe-me a envelhecer junto à mesa do café
restam-me inertes a outra xícara, o outro prato
e o mundo subtraído de ti
peço a eloquência da saudade a explicar-me tua ausência
por compaixão ao luto, visitam-me as tristezas.
brindam-me com flores à boca
ao falar de ti para as paredes
admirou-se a beleza de minha condição
mandou-me continuar
calei,
rezava apenas para os invernos.
Gêmeas
a flor em cada semente contém a boa notícia das primaveras.
sementes são feitas de tempo: as flores, as primaveras e as coisas todas.
o tempo deixa-nos as coisas gêmeas: porque gêmeas de vida,
pulsando-as e doendo-nos de vida, igualmente.
vida a precisar urgentemente dos futuros.
a morte é apenas a demissão do poema.
Distante
acendo um charuto
que não fumo
no copo derramo o whisky
que não bebo
e dói-me o peito pelo amor
que distante
era todo meu.
Imagem: Gaki-Niccals
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Guilherme Antunes, nasceu em Santos/SP, onde vive e sonha desde então. Amante das palavras, da filosofia e dos temas da alma, namora com as palavras desde que as conheceu. Sommelier de groselha, graduado em Direito, servidor público, poeta e farsante. Autor do livro “A ilha de um homem só” pela Editora Penalux. Prosador de incompletas verdades sobre nós. Ele é aquilo que ninguém vê.