Você me dá sua Palavra? Macapá, Rede Funarte, por Elida Tessler
em: http://elidatessler.com/voce_me_da_a_sua_palavra/IMG01.htm
bom dia
amor
é fundo o corpo
e as solidões se debatem
minha língua sem margens
pouca, de esguelha
envolve só um lado
da cama
produzo
uma mistura soluçada
de sangue, lágrimas
e cansaços
morro
mas não te acordo
§
nada sei
da ausência antes do espaço
dos dedos que não se firmam
dissolvo silenciosas pontes
a imagem a fronteira teus braços
dos olhos o azul reincidente
que atravessa o botão a fina pele
a ferida que nomeia o poema
à margem do ato
hidrato os passos de antes
mantenho a fruta acesa:
não resisto à palavra que não se fixa –
essa matéria sempre doce
infiltração
denso
meu corpo sintetiza
o absurdo
avoluma-se
meu corpo sintetiza
o absurdo
avoluma-se
um filete de mundo
chora, irrompe
o centro das mãos
desalinha rio
parapeito, beco
encontro
estrada adentro:
chora, irrompe
o centro das mãos
desalinha rio
parapeito, beco
encontro
estrada adentro:
aceno
pra desaguar a superfície
pra desaguar a superfície
§
te encontrar
amor
devolver o absurdo à palavra sempre
corromper os pelos os cílios o toque
seguimos agora maculados sob as árvores
à sombra dos seixos dispersos
entre o ponteiro e o orvalho
abaixo
escadas pontes esquinas
acendem uma cidade sem nome
por sorte não temos saída
por sorte não quebramos
§
segunda-feira
gorgolejo o medo
de não constelarmos juntos
então você
súbito
ancora nas prateleiras
banha os dedos
num fiasco de artéria
cura o fogo o mar
o porto a sombra
re des dobra a rua
até perder o ponto
de vista
sobre o criado-mudo
desenho flores multi
coloridas
te ensino a curar os olhos
§
eu o mapa um salto
coluna pontiaguda
que serpeia à noite
acima dos telhados
no chão, um útero
que apara suicídios
vários fins desconheço
o meio o fio a nervura
de toda pausa
só cuido
para que meus olhos
não ressequem
blue
misturado às nuvens
um bom dia
para esbarrar nas coisas
reconfigurar as coisas
cheirar todas as coisas
tangê-las
descobrir o hálito
deixado na cômoda
sobre o livro
a marca do copo vazio –
minha sede morta
entre as pernas:
tuas mãos sujas de tinta.
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Priscila Rôde nasceu em Salvador/BA em 02 de maio de 1991. Escreve no blog Mar íntimo (priscilarodec.wordpress.com). É Autora do livro “Para que fiques”, publicado pela Editora Penalux em 2012. Tem poemas publicados na revista Samizdat, revista Capitolina Cutural, LiteraturaBr, Jornal Relevo e algumas revistas digitais. Participou da organização da antologia “Crônicas de um amor crônico”, publicada pela Editora Penalux/2015.