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CÍCERO LEILTON - 10 POEMAS

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ENCICLOPÉDIA DO CAOS



longe de vista
corte divino


Não sou
um sujeito
a ser catalogado
em aprisco.

O anseio do
bestialmente
correto
não me traduz.

Como pharmakon
sou cura
e veneno.

Os loucos
têm laços de sangue
comigo.



A lapiseira
dos exegetas
não pesca
o esplendor
das palavras.

Na costura
da linguagem
as mãos
dos poetas
são consagradas
para o lúcido
ofício do sagrado.

As divindades repelem
tudo que não tem alma.


infinitas terras
noites claras


Quando ainda éramos ágrafos
a vida assinava
os glóbulos
da ilógica.

O espaço
anda entediado
com as finitas crises
da matéria.

A intimidade
da aura
cobiça a transcendência
do zero. 

Quem no escuro
de uma terra calada
se despe - aprecia
a fineza do sagrado.


Livros
são bálsamos
no deserto.

Estrelas
amasiam-se
com o verbo

verdades
de deuses 
inflamam nuvens.

A madrugada
é amiga
das palavras

aurora
a escatologia
dos poetas.

conformismo e resistência
diário de um errante


A fealdade
dos homens
me chama à realidade.

A infância da
mudança
escava o véu
do afastamento.

O corpo pensa
a diferença.

Preparo uma mesa
com pão e vinho
os convivas
Mozart e Rimbaud.

Sem nomear
astros, dançam
em cima das
verdades caídas.

Festejando
a ordem e o caos
somos cabeça
e delírio.


A pátria de
um nômade
é um poço
sem fundo

um bronze
demente
num horto
lavrado.

No oposto 
do espelho
a aragem 
do selvagem

rasga em faca
a engenharia
de átomos
modernos. 
 
Não aceitando
o Estado
qual cartilha
sua alma

nina a flor
que faz amor
e se abisma
fora d’água.

oráculo do deserto
arte de mudar


O avatar do tempo
minérios póstumos
no escuro.

Redes no zênite
da procura
caçam o peixe
do nada.

Paciência com a inércia.

Adivinhos em borra de
café.

Fortunas lançadas
ao acaso.


A cidade deságua solidão.

Felicidade transgênica 
em utilidades de hipermercado
magnólias são plastificadas.

Uma pílula vermelha
tem forma de catarse - reinvenção
do labirinto e do espaço.

Em asas de anjos - um passante
cola em sangue e mimese
uma tarde no inacabável.

A alma de um artista
tem partituras de lâmpadas.

desconformidade
extracontemporâneo


No aperto
do apartamento
a mecânica
da ordem segrega
ambiguidades 
de uma pátria
falida.

Despindo
a amada de sol
aceito o caos
e suas ilhas.



Muitos são os desertos
e o caos a caminho.

O nômade bate à porta
decadência de um mundo
diminuto.

Em mal-estar
a existência transpira
uma máxima monástica:

memento mori
(lembra que morrerás).


CÍCERO LEILTON (TITO LEITE) - Nasceu em Aurora, Ceará, 1980. É monge beneditino em Olinda/PE. Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2010), atuou como professor da disciplina.




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