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Ilustração: Darius Klimczak |
Sacramento
eis uma posição
confortável para
o esquecimento com
todos os seus
privilégios: por
exemplo nunca
mais retornar
aos primeiros dias
no deserto, à
aridez de certos filmes,
esquivar-se da sombra
das construções,
ruídos justapostos
(algo, talvez uma valsinha
talvez um choro curto)
e luz. Os postes
prestes a recuar
redimensionando
proximidades
encenando pequenos
espetáculos sob
espetáculos sob
a vista parcial da
metástase desta tarde.
Ar magro
da cama, à medida
que pequenas erupções
luminosas da rua
ricocheteiam na parede,
conjuro vertebrados
de tamanhos variados
enquanto não chega
a copeira com um
cumprimento amarelo
e sigo a rota azulejada
até o banheiro, a provável
extensão de um limbo onde
que pequenas erupções
luminosas da rua
ricocheteiam na parede,
conjuro vertebrados
de tamanhos variados
enquanto não chega
a copeira com um
cumprimento amarelo
e sigo a rota azulejada
até o banheiro, a provável
extensão de um limbo onde
congelaram carcaças
de insetos sob a louça da pia
e conforme a torneira goteja
suas almas parecem ressoar
pequenos lembretes
ou campainhas de saguão
de insetos sob a louça da pia
e conforme a torneira goteja
suas almas parecem ressoar
pequenos lembretes
ou campainhas de saguão
Eu arriscaria chamar de meu
este dia tendo
envergadura acidentada
de falanges carpos fêmures
e alguém
atravessando calçadas interrompidas
de chinelos, boné, angústia
pernas a postos
bicicleta indiscernível de como
se movimenta pelo meio
do vento
conjunto de assobios dentro
e o nome
mapeando-se entre
utilidades e belezas
para descartar
Zoom
Como quando vi neve pela primeira vez,
uma sensação pastosa de perda:
as casas em noites hipotérmicas como esta
oferecendo o melhor que podem:
mistos convenientes de mausoléus e frigoríficos:
um cachorro implora a um par de gatos que lhe
dê um pouco mais pelo que viver: uma última caçada,
um pouco de adrenalina, o mínimo esportivo
da existência. Logo o céu se enche de planícies
noturnas, começa a petrificar pássaros em pleno vôo –
Como quando vi neve pela primeira vez,
uma sensação pastosa de perda:
as casas em noites hipotérmicas como esta
oferecendo o melhor que podem:
mistos convenientes de mausoléus e frigoríficos:
um cachorro implora a um par de gatos que lhe
dê um pouco mais pelo que viver: uma última caçada,
um pouco de adrenalina, o mínimo esportivo
da existência. Logo o céu se enche de planícies
noturnas, começa a petrificar pássaros em pleno vôo –
como textura em alto-relevo, carros rasantes na estrada
parecem WillieCoyote munido de um jet-pack
borrando néons de motel:
parecem WillieCoyote munido de um jet-pack
borrando néons de motel:
Renato Mazzini nasceu (1981), cresceu e vive em Santa Fé do Sul/SP, com sua mulher, Claire, e seus gatos. É fã de música, prosa de ficção, videogames, HQ e cervejas artesanais. Publicou poemas em diversos veículos impressos e virtuais no Brasil, Argentina e México. Seu primeiro livro, Paisagem com dentes, foi publicado em 2009. Dele, a Editora Patuá lança em Julho/2015 o livro Aqui Começa a Antártida, do qual são excertos os poemas acima.