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Três poemas à revelia da noite - Italo Dantas

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Ilustração: DeviantART

1.
As manhãs cinzentas clamam a fumaça dos cigarros     
como um axioma da existência suburbana;
lábios umedecem a superfície de outros lábios   
como na marcação do compasso quebrado
que só a boca mais boca entenderia                    
            (tamanha vol´pupia)
umdoistresumdoistresquatrumdois 
há bocas aos quatro ventos
em intervalos de saliva      
línguas e dentes     
mastodontes
e imagens incorrelatas                  
incoerentes em sua própria dinâmica      
em definir os ritmos sinápticos de uma duas três
gotas de chuva em vir-a-apagar   
o cigarro que originou este poema


2.
Da teoria monocular dos olhos absconsos
Vejo-me
multifaces
no espelho
quebrantado ao meio        
3cm à esquerda     
do ponto inexorável
            [daquela imagem estúpida
hopelessnesscomo Hesse   
carrega muitos SSSSSS       
tantos que não haveria de carregá-los
nas costas ou no fio de uma lâmina
com traços ainda incipientes de ferrugem. 
Torno-me a ferrugem daquela lâmina estúpida.


3.
Último adeus ao Recife velho
Há sombras de dúvida por sobre a cidadeI
Contornos sem enfeite, lentirretos.
Por fim,
não restará pó sobre pedra
                   [sobre-ossos    
Ser/ 
estar
Por força – ou por fé –      
desamparado
diante deste
¼ de lua
esguia que se queda
                                               fria-
mente
sob o signo da pedra.

Sussurro à brecha dos azulejos
cor de marfim:
Há sombras
de dúvida
por sobre a cidade.


Seleção: Jonatas Onofre




Italo Dantas é natural de Recife e cursa Letras na Universidade Federal de Pernambuco desde 2014. Tem 20 anos e é fascinado pela poesia de Augusto dos Anjos e Moacyr Félix, mas tem medo de Álvaro de Campos e de tudo que lhe possa dizer verdades sobre a vida. Tem poema publicado pelo zine Poetiquê (PE), de que foi um dos mentores junto com Andressa Bernardino. À parte isso, não sabe se o seu primeiro nome tem acento. Fica o mistério.

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