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6 poemas de Franck Santos

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Ilustração: Irene Sheri


Entre biscoitos e xícaras de chá
às cinco horas da tarde
falaremos de amores intensos
crimes passionais
e brincaremos de sedução.



*
Já é noite.
Na boca o vinho branco substitui o sabor do chá das cinco
e da sua saliva.
Você se foi deixando pontas de cigarro
marcas de batom
e uma música tocando.
Símbolos que preciso decodificar.
Na penumbra da casa
recolho louças
farelos de biscoitos
e minhas emoções.



*
Devolvi ao mar as conchas que me deste
delas
fiquei com o maremoto
daquelas tardes.
E nenhum verão.


Ilustração: Irene Sheri

*
Cravo em ré maior, no trapiche. Flauta, no pier. Violino.
Guitarra, na maré. No refúgio.
Não amarelou o cravo da ilha. Pensei em girassol, não era. Nem flor.
Nas noites, reggae. Rappa. Beethoven.
As manhãs, sem sol e sal.
Cordas arrebentadas, murcho, o cravo, silenciou.
Sonhando com neve, nas tardes quentes do hemisfério sul.
Dele, fiz oferenda.
Joguei-o ao mar, numa madrugada. Rumo às Índias. Aos Polos. Outras ilhas.
Cítara, ecoou.



*
Na noite, um grito, que não coube em mim.
Âncora, suas mãos
Asas, sua voz
me acalmam
e na madrugada seus braços me resgatam do sonho-pesadelo
que na manhã cruzou as fronteiras do quarto
as distâncias, aerodinâmico.
A solidão entra pelas janelas e nossos corpos são paisagens cortando o dia
somos belezas apagadas
um símbolo do vazio.
Na tarde, torno-me uma ilha submersa
e o deserto o chama
enquanto os corvíderos trocam suas penas ao anoitecer.



*
Os dias deles eram doces. Melados. Água com açúcar. Um riacho doce. Uma manhã ele enjoou de tanto doce, saiu para comprar sal. Vagando pela casa, esperando o sal que ele não trazia, ela sentiu. O sal era a ausência que ele deixou. Chorou uma salina. Um oceano. Uma tarde, escreveu na geladeira: ‘o doce acabou’. Decidiu: saiu para comprar um.




Franck Santos é um homem comum, ilhado em São Luís, cidade esta que tem mar, porto, sol e céu azul o ano inteiro, mas prefere dias nublados e chuvosos, uma casa no campo, vinho e blues. Publicou Fogo Fátuo (2011, independente), O azul que não desbotava (2014, Penalux) e Poemas para dias de chuva (2015, Patuá).

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