-Alô?
-Sim.
-Édoatendimentocorações solitários?
-Sim,senhor.
-Euquerouma guria. Tipobaixa, 20anos, mignon.
-Seuendereço?
-MeuendereçoéSenador Pontes, 415ap.1002
-Estamos providenciando.Osenhor tempreferência pornome?
-Queroquesechame Bárbara.
-Obrigado. Dentrodeumahoraelaestaránolocal.
-Obrigado. Estarei aguardando.
Bárbara desceudotaxina SenadorPontes. Caminhousobreossapatos plataformas.Ocorpo esguiochamavaaatenção. Checouonúmeroquetrazianasmãos.Tocouparaoporteiro,Bárbara.Ok, podeentraresubir.Apartamento1002.Obrigada. Oelevador antigo deportapantográfica.Subialentoentre rangidos. O prédionãoerafeio,sóantigo.Localizadonazonasuldacidade. Oelevador solavancou.Eraaparada. Tocou a campainha do 1002.Ouviuavoz“Quemé?”
Elajáentrandonoseupapel, respondeu,Bárbara.Ah!,vouabrir aporta. Sóumminutinho.Barulhodasfechadurassendodestrancadas.
-Tudobem?
-Tudo.
-Podeficaràvontade.
-Obrigada.
-Bárbara.
-Oquê?
-Bárbara.
-Chamou pormimoufoiumelogio?
-Osdois.
-Vouficartímidaassim.
-Queisso.Vouatéacozinha preparar algopara a gente beber.
-Vaigato.
Bárbaracaminhoupeloapartamento.Amobíliabemcuidada.Asestantescomlivrosepequenasestatuetas.A janelacomumavistaprivilegiada.
-Olá!Atrapalho.
-Nãosópensava umpouco.E reparava comoé bonitoseuapê.
-Obrigado.
-Qualéoseunome?
-Meunome?Podemechamar doquequiser.
-Tábom.
Sentaram nosofá.Ovestido deBárbara abriu–senocortedaspernas,deixandoascoxasàmostra.Aspernas erambonitas. Tinhaumcorpoharmonioso.
-Oquevaiser?
-Deixarrolar.
-Nãotoposado.Enenhumavariantedesexo grupal,ouviu.Seestiveresperandoumamiguinhoparaparticipardafestapodeesquecer.
-Nãoestou esperandoporninguém.
-Vouchamá-lo deAlexandre.
-Tábom.
Alexandre foiatéotoca-discos.Escolheu uma bolacha romântica.
-Vocêdança?
Eabraçadoscomeçaram arodopiar pelasala.
-Ésempreassimquevocêcomeçaascoisas?
-Quasesempre. Beijaram-se.
Noquarto aluzdodiainfiltrada.
Bárbara catasuasroupas pelochão.Ocelularnabolsatoca.Éaagência.
Novocliente.
-Qualonome agora?
-Ocliente quer Bardot.
-Tudobem.
Notáxiabresuanécessaire.Retiraespelhoebatom.Escova.Retocaamaquiagem.Deparacomos documentos. Céduladeidentidade.Opróprio rosto.Otaxistatemojornaldodiasobreopaineldocarro. Escovacomcuidadooscabelos.Amanchetedamortedeumaprincesa.Mechamo Daiana.O taxistaolhou-apeloretrovisor.Queroiràrua...Deuoendereço.
Saltoumeiahoradepois. Sócomidentidade,senhora. Prasubirsóidentificada.
Deuonome debatismo.Socorro.MariadoSocorro.
Esubiu.
* * *
Mariel Reis (Rio de Janeiro, 1976) é originário do limítrofe bairro carioca da Pavuna (vizinho à baixada fluminense), graduou-se em letras pela UERJ e integrou os conselhos editoriais das Revistas Confraria do Vento e Paralelos. Seus livros lançados são "Linha de recuo e outras estórias" (2005), "John Fante trabalha no Esquimó" (2008), "Cosmorama" (Poesia, 2009) e "Vida cachorra" (2011), este último com prefácio de João Anzanello Carrascoza e quarta capa de Paulo Lins. Em 2012 lançou "A arte de afinar o silêncio" (leia aqui uma resenha); E-mail.