esta batalha entre máquinas de alta octanagem;
motores se digladiassem no palco do Armageddon
pintado por ninguém menos que William Turner
e nenhuma paisagem que se pudesse prever
seria tão brutal & insana quanto essa! :
meninos explodindo no metal retorcido,
em imagens projetadas na tela da sala escura
- cromo & sangue contra essa luz que nubla -
enquanto a belíssima imperatriz amotinada
cavalga (falta-lhe o braço), um escravo foragido,
transtornado pelas visões da filha devorada
ajuda o grupo; escoltam três pares de mulheres,
eram meros pomares de corpos saudáveis, que nunca
- fêmeas rebeladas - seriam salvas deste insano
& monstruoso líder distópico que as manteve vivas
na interminável caverna de um estupro sucessivo;
agora todo combate entre veículos armados
parecerá menos plausível que esta fantasia
e toda violenta pancada entre coisas de aço,
os raptos de gasolina & fúria & diesel & brasa
& ferro fundido & óleo & tudo que é líquido
& sólido se misturando ao panorama desertificado,
trarão o inesperado açoite da tempestade elétrica
recolhendo em raros tornados, o carbono do fogo;
e quando esta briga de bigas se eleva às raias
de um surrealismo pós-Apollinaire, algo entre
Max Ernest & Luis Buñuel, Bosch da própria tumba
se regozija e grita, "bravo! bravo!", como quando
atravessam um alagado entre seres de pernas tão
finas quanto as que Dalí mostrou como elefantes,
ou ainda, nos eletrochoques recebidos por Artaud
do próprio amigo fiel Ferdière, dono do manicômio.
quem é o poeta senão esse ventríloquo, o arremedo
precário de Max Rockatansky, buscando nas palavras
a máxima fuga, a única alternativa possível,
o definitivo oásis em meio ao Saara radioativo
de todas as impossibilidades terrestres
além da suprema adversidade imposta à sobrevivência
da espécie humana, que se esgueira, cega surda muda,
entre ruínas sujas de palácios, anacrônicos altares?
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