A poesia sendo, segundo Valéry
“A hesitação permanente entre som e ideia”
“Nos faz tocar o impalpável
e escutar a maré do silêncio
cobrindo uma paisagem
devastada pela insônia”, na recitada definição Pazeana.
Poesia é território sem palavras.
Poema é fixação sensórea
por meio de palavras,
extrato de algo a durar no tempo.
Essência do eterno,
a poética, imagem máxima que fica.
Quando Paul Valery disse:
“Um poema nunca é terminado, apenas abandonado”.
e em tudo o que já foi dito,
escrito, lido, relido e esquecido
ficou o dito pelo não dito
o dito cujo ditado a ditadura
(música de coturnos, zunido de máquinas e projéteis,
escalas de ordens-vociferações)
dormiu escrituras relegadas a séculos
às tumbas de gavetas mórbidas.
Assim, corpos celestes viraram letras
cadentes no céu do papel
ou bem menos que isso,
coisas de valor algum
(porque é humano arder
até que essa fogueira míngue)
até que um dia
a mão de seu criador liberta essas gavetas
e redivivos fantasmas,
letras mortas-vivas, ninfas
saiam aos trancos
cheias de sustos e assustando
as velhas reservas morais,
as etiquetas sociais
o leitor desconfiado de poemas
pois a palavra que era sombra
voou bonita colorida
numa bela tarde de outono.
O pequeno se aninha no seio da mãe
mas o poema de pé quebrado é órfão,
manqueja e seu andar tortuoso
faz a via da menos-valia
chegar aqui, agora,
de onde nos olha
apenas (a penas!) com um sorriso
que dormiu o minério do mistério
há tanto tempo
há tanto tempo
que estava ali e não se viu
(onde já se viu!)
um sorriso que talvez signifique
o tamanho imenso de nossa insignificância.
Marcio Davie Claudino nasceu em Curitiba, em 15 de agosto de1970, onde vive com suas três meninas, Lala, Preta e Dindinga, suas filhotas SRD ("como eu mesmo me defino"). Teve passagens por lugares decadentes, de desolo moral, emocional e social. Nesse sentido, já passou um pouco por algumas coisas, desde subempregos (penitenciária, vendedor itinerante, representante comercial, microempresário, pesquisador, escrivão, instrutor de musculação, personal sentimental, educador social, inspetor de alunos, secretário escolar, revisor de material didático, entre outros) a autoexilado, eremita, saltimbanco, free-lancer e ghost writer. Em 2007 lançou o livro de poemas "O sátiro se retirou para um canto escuro e chorou", pela SEEC/PR. Como vem dizendo, já são quase 44 anos entre poucas musas e muitas medusas (agora na Hélade).