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Ilustração: Rui Manuel R. |
Despretensiosos haicais
escritor de sobra
o que guarda de rascunhos
é maior que a obra
*
afiado haicai
saíste ao mestre leminski
versado samurai
*
tantos dissabores
segue com seu nobre ofício
de formar leitores
*
não somos bobinhos
inventamos nossos balões
nas histórias em quadrinhos
não somos bobinhos
inventamos nossos balões
nas histórias em quadrinhos
*
o vento balança
cada folha já ensaia
sua própria dança
o vento balança
cada folha já ensaia
sua própria dança
*
a mosca na folha
matá-la ou poetizá-la
terrível escolha
*
ideia que surge
entre o anzol e a fisgada
o haicai já ruge
*
ando tão clichê
a inspiração, maldita
já cobra cachê
ando tão clichê
a inspiração, maldita
já cobra cachê
*
tinha amor de sobra
de mãos dadas com a filha
mas de olho na sogra
tinha amor de sobra
de mãos dadas com a filha
mas de olho na sogra
*
com textos de quinta
não tem escrita de ponta
mas é boa pinta
com textos de quinta
não tem escrita de ponta
mas é boa pinta
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Ilustração: Rui Manuel R. |
À Deriva
Teu amar
é verbo amputado.
Restou o mar:
um prefixo
premeditado.II
Meu poema é aquele tronco
seco
Meu poema é aquele tronco
seco
condenado.
Meu poema é aquele tronco
carcomido
carcomido
desacreditado.
Meu poema é aquele tronco
desprezado
desprezado
mas ainda altivo.
Meu poema é aquele tronco
aniquilado
aniquilado
mas ainda vivo.
Meu poema é aquele tronco
à mercê da poda
à mercê da poda
de raízes agonizantes.
Meu poema é aquele tronco
rendido pela corda
rendido pela corda
de sonhos distantes.
Meu poema é aquele tronco
que um dia foi sombra
que um dia foi sombra
abafado pelo grito: - Corta!
Jeferson Bandeira (Curitiba/PR, 1980) é professor e escritor. São dele os suportes literários Agonias Ilustradas (livro-baralho) e 69 Rapidinhas (livro-caixinha de camisinha), ambos de micronarrativas.
Contato: jeferson_bandeira@hotmail.com