Quantcast
Channel: mallarmargens
Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

esbelto ele avança como lança - Lenonn Rosa

$
0
0
Ilustração: Czyzowska Young




 Infinda é a noite na qual ando solitário atado aos pensamentos poéticos filosóficos europeus. Sou um faquir bêbado mediante cruzes nada religiosas pagãs aos antigos deuses germânicos nórdicos espartanos gregos. Grilos cantores atarefados entusiasmados por conquistas amorosas noturnas intimas primitivas agregadas à vontade superior deles próprios. Nascemos no frio da existência, procuramos sentidos diariamente, inventamos artes distintas pesadas, o cotidiano mata os criativos universais escritores artistas. Exclamo alguma coisa insignificante à solidão tão bem mostrada, mas meus sentimentos são agradáveis e satisfatórios, posso afirmar-me contente neste estado de espírito simplório olvidado pelo capitalismo, amo a escuridão latente proveniente das classes trabalhadoras proletariados esforçados exaustos ou a escuridão dos antigos apreciáveis gregos guerreiros estoicos. O ar pesa, torna-se rarefeito como no cume do monte Everest, talvez seja minha imaginativa imaginação peculiar criativa simplória, alguns dias futuros estarei acompanhado de algum amigo - como tenho poucos amigos, talvez apenas dois - estou reservado ao silêncio de uma gelada cerveja cara - ou barata - numa estadia medíocre humilde amigável, distração frequente vindo à mente. Neste momento contraditório apresento minha essência tirada de alguma quintessência particular, os berros solidários de um poeta babélico à meia-noite em Miraselva, ou melhor dizendo em Paris, expressões humanas atiradas ao nada da existência transformadora inconstante, os belos uivos dos extintos lobos da memória.

 - Amanhã estarei num melhor lugar, mais iluminado artístico proseado criativo eufórico vivo, rodeado de bons sinceros amigos, aconchegado com uma mulher amante, perto de bebidas geladas. Sendo um poeta junto de outros. Minha existência terá um sentido mais nobre, mais elevado, mais grandioso. - indago passando numa esquina sentida a vista de cegos surdos morcegos cotidianos. Olhos exaustos, fome constante, passos largos, riqueza opulenta de sentidos regrados à sabedoria de humanas percepções deploráveis. O quê sinto não é depressão? Não... É outra coisa, algo mais peculiar, um sintoma mais moderno velho telúrico bélico, uma reles expressão momentânea de insatisfação de certezas convenientes ao acaso, um paranaense spleen, um blues brasileiro, ah medida metódica vida beneficente do cidadão alienado! Todos somos alienados, eu sou como você é, limitados ao tempo e lugar onde nascemos e vivemos. A normalidade é uma bala de dois gumes, uma faca afiada para a perdição e o esquecimento, tristonho seria um idealista imperialista. Pecaminosa é a puta velha cheirosa capitalista materialista trabalhadora que ama o prazer do trabalho, como admiro-a! Esses seres que vivem tuas vidas artisticamente mortalmente todos os dias como se fossem morrer amanhã são dignos de nota, os poetas que escrevem diariamente sobre a morte são os melhores, os atores disfarçados de substituição representam nossa socialista realidade atual, enganos ledos à parte. Ainda almejo perambular na lua, sim a lua, esta mesma que aparece para a terra e os humanos as noites diversas. Adentrar no obscuro mitológico lado musicado, conversar com as criaturas inteligentes sensíveis que lá habitam seria uma baita de uma realização sexual, devo dizer, pessoal. Mas continuo andando por aqui sorrateiro não-inquieto, estou em outra rua qualquer lotada de silêncio, avisto um banco tosco, vou-me, sento vagaroso orgulhoso, passo a permanecer quietamente silencioso neste buraco de realidade dimensão paranaenses.

 Tranquilo será o dia. Meus olhos fatigados de - anteriormente - tanto ler uma excelente poesia brasileira de um autor não tão conhecido, mas grandioso. Rotina, esforço, reflexão, pensamentos, sentimentos, momentos, quimeras fantasiosas. Virtualmente conheço uma moça de Maringá, cidade consideravelmente grande que fica a uns 70 km daqui, almejo conhece-la pessoalmente quando der. Mas isso é ilusório, essas relações virtuais, estar presente pessoalmente é o mais importante. Quantas existências perdidas neste mundo, tantos olhares não trocados ou trocados que olvidados foram, tantas paixões que poderiam mudar milhares de vidas, mas o esquecimento e o tempo martelam frequentes. Levanto-me sequioso, começo a andar apressado - talvez até desesperado - para voltar pra minha doce aconchegante casa moderna lanterna. Haverá outro dia para viver, outro dia para esquecer, outros poemas para ler, outros poemas para escrever, outras tentativas de engrandecer minha existência babélica séria quieta. Haverá um dia no qual o eu poeta torne-se senhor das vontades e terei uma inabalável virtude de criar o caos poético. Enquanto isso perambulo só, pensativo...




Lenonn Rosa: sou de Miraselva, Paraná. Estudo e não trabalho, atualmente dedico-me à literatura, esperando algum dia futuro publicar um livro. Influenciado por Rimbaud escrevo algumas pequenas histórias talvez até poéticas, escrevo principalmente poesia que é minha paixão maior. Esforço-me a melhorar minha arte diariamente. 

Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

Trending Articles