Canto de África
Canta, canta chuva lá fora
Grita, grita gente de África
Gente amarela, negra e branca
Somos, somos filhos de África
Canta o poeta, além do mundo
Ergue África cheia de triunfo
Minha terra, meu chão, minha alma
O sangue que corre nas minhas veias com fervor
Canta, canta gente lá fora
É África para toda a gente
Ventre cálido, mãe do universo
Vou honrar-te nestes versos
Canta, canta o africano
Povo hospitaleiro, singelo e bravo
Ah, como é belo este canto
Onde o mundo acocora-se para cantar-te com esplendor
Canta, canta gente lá fora
Grita, grita espírito de África
Vem irmão, vem cantar esta canção
Canção de África, para mim, para ti, para todos nós
Sou Molwene
Feto de um ventre desconhecido
Dado como desaparecido
Num contentor de lixo esquecido
Sou filho desse chão frio
Que todas as noites me acolhe
Meio-irmão dessas ruelas onde o imundo se esconde
Enteado dessas avenidas que me desprezam por ser molwene*
Sou molwene, sim sou molwene
Sou molwene, mas também sou gente
Gente como tu, como os outros
Respiramos o mesmo ar
Sentimos as mesmas dores
Pisamos o mesmo chão, que nos há-de engolir quando Deus chamar
Sou molwene
Pássaro que voa livre pelo mundo
Sou ave que debica grão a grão deste chão imundo
Sem me preocupar com o futuro
Visto no corpo esfarrapos gastos pelo tempo
Carrego na minha pele uma carapaça escamosa, revestida pelo vento
Ao meu redor, abrigo outros molwenes, sem onde dormir e o que comer, como eu
Amanhã
Quando o amanhã chegar, não quero mais ser molwene
Quero também ser gente, gente como tu, como os outros
Molwene*- menino de rua
Cokwane
Cokwane, sinto um ligeiro cansar envolto do teu ser
Suspiras mais do que respiras
O teu rosto assombroso, palido e ressequido, fendas marcadas na tua face
Tua pele cravada de linhas do tempo, cicatrizes, marcas da vida
Teu pulmao leve e fragil tenebrosamente ameaca sai-te pela boca
A retina dos teus olhos cansados, buscando onde repousar
Na esperanca ainda por nascer, tem seu consolo
Sentado debaixo da arvore (re) contando historias, palavras soltas ao vento, um livro uma historia, uma historia, uma vida
Cokwane que te vejo repousar o teu corpo afatigado de grandes e inumeras batalhas
Tao fragil e desamparado vejo-te polir o chao com lembrancas duma vida insipida
Aoutrora, tinhas o mundo contigo, e hoje es o fungo que lhe repele
Deve doer essa solidao, deve doer
Cokwane, não te canses que o pulmão ainda vai pelos ares
Abra a alma e deixa-a purificar, cokwane
*cokwane- avó
Mafala In Solo
Caminho silenciosa pelas artérias da Mafalala, um mundo submerso na miséria, um subúrbio no coracao urbano
Me perco nos rostos felizes e ingênuos de cada infante
Pouco compreendo a esperança que ainda reluz naqueles rostos cravados de rugas, pousados na varanda, esmigalhando o tempo na sua lerda cachimbada
Amanha, teremos uma Mafalala melhor, sobrevoa esta nuvenzinha em algumas mentes brilantes
Involuntariamente minha retina cansada, em flash's rápidos, memórias para toda a vida, vai guardando pouco daquele chao imundo e inundado, das casas de lata, e rostos serenos na sua plena felicidade
Onde se foram os filhos de Mafalala? Deixando-a só, uma solidão profunda e secular
Celebramos-te Mafalala, coracão suburbano, onde o mundo vem beijar-te sem que olhem para as tuas eternas feridas
Ha vida naquela Mafalala, no crepitar na lenha ardendo num quintal improvisado
Nas capulanas garridas, abracadas aos corpos das mulheres
Nos rostos alegres das criancas, saltitando alvoroçadas
Nos rostos enrugados sentados a varanda, contando e recontando as tramoias e sortes da vida
Há vida, há esperança, ha uma nova esperança nos milhares de rostos, em um só coracão in solo
Meu nome é Iyolanda de Jesus nasci em Maputo, em 1989. Desde pequena gostei de escrever, dentre o que escrevia, destacavam histórias infantis e contos. Em 2007, comecei a intensificar os meus escritos, após receber da minha mãe um bloco de notas. Nele escrevia pequenos contos românticos, e dramas, inspirados na realidade. Nessa época, partilhava os textos com um grupo de amigos que tinham o mesmo objectivo que eu, o de escrever. Porém, o grupo desfez-se porque grande parte dos meus amigos dispersaram- se por causa da faculdade, a partir de então os textos eram escritos e arrumados, Isto porque não tinha com quem partilhar os textos.Em 2011, recomecei a escrever.
A poesia evidencia em mim no período de 2012-13, e foi nessa época que criei o pseudónimo Hera de Jesus. A criação de um pseudónimo, ajudaria a diferenciar duas pessoas distintas, Hera de Jesus como poetisa, e Iyolanda de Jesus como jornalista.
Entretanto, exploro o Facebook como minha ferramenta de trabalho, onde através do mesmo partilho os meus textos com mais pessoas para além dos meus amigos.
Em 2013, dei uma pausa no meu conto. Tenho me dedicado a poesia, até então. No mesmo ano, fui convidada para participar do grupo de literatura Moçambicana Lidilisha, para qual colaboro com textos poéticos.
Em 2014, participei do concurso mundial de poesia, Prémio Mondiale de Poesia Nósside, tendo ocupado a 3o lugar na 36a posição, na categoria de melhores textos com o poema intitulado “Sou Molwene” da minha autoria. No mesmo ano, colaborei com o texto intitulado África Negra para a revista brasileira Por Dentro de África.
Na vertente literária, aprecio escritores como: Paulina Chiziane, Eduardo White, Mia Couto. Pelo mundo a fora, tenho preferência por diversos escritores como: Eça de Queirós, Florbela Espanca, Clarice Lispector, Mário Quintana e Fernando Pessoa, e Pablo Neruda. Estes escritores, para além de ter um grande cunho literário, tinham diversas formas de retratar a realidade, porém o sentimento era sempre o mesmo, escreviam com a alma.