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Ilustração: Laura Giardino |
memória
lembro-me dos primeiros fôlegos
fibrosos no coração de uma iluminura
a mãe, introspectiva, dizia em elipses:
- aquele cinza ... aquele cinza radioativo
era as contrações do mar parindo os seus olhos
depois inventava usos externos
para a melancolia carbonizada nos ossos
eu segurava nas mãos um âmbar
cheio de partidas
- as três pontas
de uma estrela cadente –
primavera
pareço fictícia
em qualquer ponto da cidade
não digo nenhuma palavra no meu idioma
sem axioma
em qualquer ponto da cidade
não digo nenhuma palavra no meu idioma
sem axioma
, alimento-me da minha fome,
um monograma de peixes
abandonou os meus lábios
sozinha
quase alcalina
arremedo beijos nas esquinas
vírgulas no tempo
acho possível ser mangue
com sotaque de samba
e estômago habitado por montanhas
abandonou os meus lábios
sozinha
quase alcalina
arremedo beijos nas esquinas
vírgulas no tempo
acho possível ser mangue
com sotaque de samba
e estômago habitado por montanhas
: a matéria bruta cafunga
sinônimos cardiogênicos :
sinônimos cardiogênicos :
cônicas e catúlicas
as mariposas emaranham
mares e margaridas
nas cabriolas do vento
as mariposas emaranham
mares e margaridas
nas cabriolas do vento
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Ilustração: Laura Giardino |
retorno [experiências iniciais ou gênese de um instante]
concretamente as paredes velhas
subidas até a desaparição da sua imagem
ouço o grito inconcluso das calêndulas
anunciando a primavera
ninguém abraçado à canção das pegas
ninguém viveu tanto tempo
para esquecer o próprio tempo
somos essas intensidades perdidas
no olhar de alguma poeta
talvez as contrações
quando alguém transcende as fronteiras
e arqueja o primeiro verso
papel
meço seus ângulos
com carícias castaclísmica
----- e fluxos amnióticos
na encurvadura torácica
: um pássaro :
silencia sístoles em sílabas
discursar
das pedras oxidadas
amígdalas
da fome de silêncio
a fonte
amígdalas
da fome de silêncio
a fonte
ouvir-te-ei quando tuas mãos
como pétalas
abrirem os rios do meu corpo
serei outra
e ainda várias
fala
como pétalas
abrirem os rios do meu corpo
serei outra
e ainda várias
fala
que as palavras que escrevo
desmancham-se no teu dentro
e amanhã bem cedo
desmancham-se no teu dentro
e amanhã bem cedo
a voz que era sede
saudade
saudade
Carla Carbatti: sou qualquer carla, como tantas Carlas que há, filhas de Marias. nasci onde brilham as estrelas de Três Pontas e jorram luz até BH. disse amor e atravessei o Atlântico. hoje habito um Campus Stellae. amo, amo demasiado duas menininhas de olhos acastanhados, mais brilhantes que o sol. nos feriados solto pipas e escrevo com com todos os átomos. nos dias de feira faço um mapa losing stepsdas heterotopias de Clarice, pra isso que chamam de tese, mas eu chamo mesmo é de saltar no abismo com um verbo infinitivo nos lábios ...
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