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Fotografia; Hellen Levitt |
Os meninos e eu
Os meninos empinavam pipas;
eu, pássaros
Os meninos folheavam revistas
de garotas nuas;
eu, assistia ao namoro dos sapos
Os meninos iam ao cine;
eu, atravessava a pé
o igarapé
Os meninos desenhavam piratas
tesouros, navios;
eu, a escafandrista solitária
Agora
solidão nos devora
em negros prédios
meio à elite ignara
Os meninos vestem
negro/desencanto
seguem com cifras
nas pupilas vítreas
Tão tristes os meninos,
reclusos, bebendo
o índice Dow Jones
com café
.
Trocando de amantes
a cada inverno.
A alma pesada os faz andar
em cadência de elefante
Eu, pinto gravuras
em tons rosa chá
teço minhas roupas
danço minhas músicas
Não atravesso
o vidro frio do templo
moderno
– shopping center –
eu, pássaros
Os meninos folheavam revistas
de garotas nuas;
eu, assistia ao namoro dos sapos
Os meninos iam ao cine;
eu, atravessava a pé
o igarapé
Os meninos desenhavam piratas
tesouros, navios;
eu, a escafandrista solitária
Agora
solidão nos devora
em negros prédios
meio à elite ignara
Os meninos vestem
negro/desencanto
seguem com cifras
nas pupilas vítreas
Tão tristes os meninos,
reclusos, bebendo
o índice Dow Jones
com café
.
Trocando de amantes
a cada inverno.
A alma pesada os faz andar
em cadência de elefante
Eu, pinto gravuras
em tons rosa chá
teço minhas roupas
danço minhas músicas
Não atravesso
o vidro frio do templo
moderno
– shopping center –
Não atravesso
a porta de cedro
do antigo templo
.
(enquanto o Vaticano
não doar aos pobres
todo ouro seu)
Vivo nas esferas
desço ao chão
para pisar águas
dos igarapés
Adormeço
no berço-arraia
que me embalazul
no "mar/
belo mar selvagem”
In Chá para as borboletas (21 gramas)
***
Somos incompletos. Se uma mulher esconde o sangue e a lágrima e se até mesmo o sorriso acaba por ser flor rara no deserto de sal, é por saber que nada no mundo é inteiro: Nem o homem, nem os anjos, nem a flor.
“Uma migalha de mim”
Emily Dickinson
Teço
Um ego/vidraça
Para que enxergues
Meu Eu
Teço
Uma nuvem lassa
Cortina que qualquer mão
Atravessa
Teço
Um hímen de fumaça
Sobre a virgem essência
- tudo o que sou Eu
In A flor dentro da árvore (2011)
Bárbara Lia. Poeta e Escritora. Publicou dez livros (de poesia, conto e romance). Destaque nos prêmios SESC, UFES, Helena Kolody e Newton Sampaio, entre outros. Antologias: O que é poesia? (Confraria do Vento), O melhor da festa - 3 (Festipoa) e Amar, verbo atemporal (Rocco), entre outras. Vive em Curitiba.