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Poesia Ímpar - Paulo Roberto Pereira Vallim

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Ilustração: Hord beniamin



quem escreve
para seus pares,
escreve para
seus pares.

o poeta ímpar
escreve
para qualquer
um.



VIOLONCELO

contemplo
a ausência
das árvores
no quintal.

o muro.

restam outras,
longe.



*
fui ao quintal
sentir o verde
e os passarinhos, mas...
olha a chuva!

me conformei
com a janela.



JANELA

o voo da pedra
atravessa a vidraça
e quebra meninos.



*
debaixo
do meu guarda-chuva,
olhei
pra cima
e vi
a coisa preta.



*
os atores pelados
pouco se importam com as pulgas
do cine pornô.



*
uma janela nos trai
quando passamos o dedo
em sujeira que se esconde
do outro lado do vidro.
por isto, as pessoas dizem
que as transparências enganam.



Ilustração: Evgenija


*
ouça um conselho dos sábios
quem com palavras se exprime:
repita o poema nos lábios,
mil vezes, se necessário.
a partir do dito acima,
quem tem boca vai à Rima.



*
os fantasmas
quando despem seus lençóis
são almas peladas.



*
num calmo instante,
contemplo o mesmo quintal
com olhos inéditos



*
mas como conseguem
passarinhos tão gorduchos
voar desse jeito?



*
tarde de domingo
reflexos poças eus



*
amanheceu.
o dia claro
ofusca as estrelas.
o papel em branco
ofusca letras.



*
as letras em preto,
vaga imitação da noite.
peneira a tapar o sol.



*
quem fala,
muda o mundo.
desde
que o mundo é mudo.



*
adão e eva
brincavam de pegar.
eva mordeu
a maçã
e caiu,
leve como a neve.

adão
comeu os pomos
da macieira
e pegou
no sono.



*
olhando as estrelas,
posso ver o futuro:
geada à vista.



*
o livro amareleceu.
as letras
ainda pretas.




Paulo Roberto Pereira Vallim nasceu em 1962 em Curitiba-PR, onde vive até hoje (passou parte da infância em Cornélio Procópio-PR e aos 40 anos morou por 10 meses em Itanhaém-SP).Começou a escrever poemas por influência do ambiente universitário, quando estava já com 25 anos de idade. No início dos anos 90 frequentou a Feira do Poeta. Possui poemas publicados em antologias coletivas e nos jornais Correio de Notícias e Folha de S. Paulo. A maior parte da produção está concentrada nos anos de 1991 e de 2014, ano este que marca o reencontro com o poeta, animador cultural e editor Geraldo Magela Cardoso, que o encorajou a voltar a escrever e a lançar o primeiro livro, cujo nome deverá ser  POESIA ÍMPAR .Atualmente é servidor público e nas horas de folga cuida de sua mãe.

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