Inquisição Por mais que tapem os ouvidos, Que cuspam nos escritos Ou arranquem minhas mãos. Eu me deleito a cada espasmo... O meu silêncio é Poesia, O meu poema: Heresia E a fogueira o meu Orgasmo! Terapêutica Piso um passo inteiro. Que de volta, não há promessa. Desvio apenas de um canteiro E o todo da sensação me interessa. Talvez seja eu, um bicho do submundo Que respira e engole tudo o que me invade. Caminho como se todo o mundo Coubesse nesta cidade. Colori o mar de vermelho Da bruta tempestade que me atravessa Ponho os calcanhares na via expressa, Sinto o prazer do mundo que me acessa. Me instauro num sentindo tão profundo Onde ninguém me leve a privacidade... Comigo, apenas, me inundo. Nas avenidas da minha unidade Provo de tudo que me tenha o gosto oriundo Esqueci a porta aberta e a vaidade. Pois sou eu mesma a parte avulsa, A minha mesma metade, larga e convulsa. Meu caminhar já não regressa. Não sei se é morte ou loucura que me expulsa Ou a cítrica dor que se expressa... Mas a existência pulsa. Manufatura De mão em mão A poesia enche O teto: Se ergue do asfalto. De mão em mão A poesia enche O tato: Exibe quadril esbelto. De mão em mão A poesia enche A teta: Para o bicho solto. De mão em mão A poesia enche A cisma: Na busca do aflito. De mão em mão A poesia enche O papo, enche o saco E só não enche o bolso do poeta. Corpo e Sangue Introduz delicada e gentilmente A benção suprema em riste Eis tão suave e pequenina rodela Consagrada de hóstia. Embebe-na em sangue da criação: Vinho, vinho, vinho! Que és tu, que nunca me deixa triste? Ainda constam lá dentro os dedos rotos Segurando o cálido corpúsculo em dupla. Singelo círculo sagrado de tão macio Suga toda a secreção em réstia... Assim se purifica toda a culpa De um mundo hostil, Lenta e sem solidária modéstia Graças a troca entre tais corpos no cio. Analisada A garota nacional Só de fio dental Dá cambalhota na TV Faz de tudo pra você Nunca mude de canal Análoga não dialoga Mas sai um arsenal Da sua bunda intelectual Dispositivo silico-funcional Ir pra escola não era legal Semianalfabeta, ela ora E decora, sem demora Como é que se rebola Não analise que ela cora Não alise que ela cobra Paga a conta e mostra o pau Que ela é sensacional... Poemas de Blasfêmea, editora Patuá. Autora do livro Blasfêmea, Thalita Pacini é paulistana do miolo da Avenida Paulista, foi feita no Rio de Janeiro, mas poderia ter nascido na Bahia ou em Curitiba, só pra variar um pouco. Fez um ano de Direito, um semestre de Gestão Ambiental, é formada em Letras e pós-graduada em Comunicação e Marketing pela Universidade Castelo Branco. Vive se apaixonando pelos saberes, crença só tem em crianças, no amor, em desenho animado, nos sonhos, no teor eletroquímico do pensamento e em interdisciplinaridade (já fez cursos de extensão em Assessoria de Imprensa, Psicanálise, Animação, Direitos Humanos). É viciada em seriados de investigação criminal, em cotonetes, compra livros novos sem ter lido alguns antigos, tem o paladar mais exótico do que de avestruz (e se orgulha disso). Já teve vários subempregos, foi assistente em revista científica, faz revisão de textos para agências de publicidade, documentação técnica, identidade visual, vídeos e textos corporativos. É autora do livro infantil Meu Grande Avô, publicado pela Editora Uirapuru. Possui outros projetos de livros infantis, ensaia ilustrações e tem artigos de opinião, contos e poesias publicados em revistas eletrônicas e sites. Ativista em grupo Pró-Direitos Humanos, também é colunista no Programa Território Animal. No momento se encontra perdidamente encantada por Neurociências e tem vontade de produzir textos para Cinema. www.programaterritorioanimal.com.br | www.laboratoriodathali.blogspot.com |
↧
5 poemas de Thalita Pacini
↧