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5 poemas de Thalita Pacini

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Ilustração: Mateusz Strelau



Inquisição 

Por mais que tapem os ouvidos, 
Que cuspam nos escritos 
Ou arranquem minhas mãos. 
Eu me deleito a cada espasmo... 
O meu silêncio é Poesia, 
O meu poema: Heresia 
E a fogueira o meu Orgasmo!



Terapêutica

Piso um passo inteiro.
Que de volta, não há promessa.
Desvio apenas de um canteiro
E o todo da sensação me interessa.
Talvez seja eu, um bicho do submundo
Que respira e engole tudo o que me invade.
Caminho como se todo o mundo
Coubesse nesta cidade.
Colori o mar de vermelho
Da bruta tempestade que me atravessa
Ponho os calcanhares na via expressa,
Sinto o prazer do mundo que me acessa.
Me instauro num sentindo tão profundo
Onde ninguém me leve a privacidade...
Comigo, apenas, me inundo.
Nas avenidas da minha unidade
Provo de tudo que me tenha o gosto oriundo
Esqueci a porta aberta e a vaidade.
Pois sou eu mesma a parte avulsa,
A minha mesma metade, larga e convulsa.
Meu caminhar já não regressa.
Não sei se é morte ou loucura que me expulsa
Ou a cítrica dor que se expressa...
Mas a existência pulsa.



Manufatura

De mão em mão
A poesia enche
O teto:
Se ergue do asfalto.

De mão em mão
A poesia enche
O tato:
Exibe quadril esbelto.

De mão em mão
A poesia enche
A teta:
Para o bicho solto.

De mão em mão
A poesia enche
A cisma:
Na busca do aflito.

De mão em mão
A poesia enche
O papo, enche o saco
E só não enche o bolso do poeta.



 Corpo e Sangue 

Introduz delicada e gentilmente 
A benção suprema em riste
Eis tão suave e pequenina rodela
Consagrada de hóstia. 
Embebe-na em sangue da criação: 
Vinho, vinho, vinho! 
Que és tu, que nunca me deixa triste? 

Ainda constam lá dentro os dedos rotos 
Segurando o cálido corpúsculo em dupla. 

Singelo círculo sagrado de tão macio 
Suga toda a secreção em réstia... 
Assim se purifica toda a culpa 
De um mundo hostil, 
Lenta e sem solidária modéstia 
Graças a troca entre tais corpos no cio.



Analisada 

A garota nacional 
Só de fio dental 
Dá cambalhota na TV 
Faz de tudo pra você 
Nunca mude de canal 
Análoga não dialoga 
Mas sai um arsenal 
Da sua bunda intelectual 
Dispositivo silico-funcional 
Ir pra escola não era legal 
Semianalfabeta, ela ora 
E decora, sem demora 
Como é que se rebola 
Não analise que ela cora 
Não alise que ela cobra 
Paga a conta e mostra o pau 
Que ela é sensacional...


Poemas de Blasfêmea, editora Patuá.




Autora do livro BlasfêmeaThalita Pacini é paulistana do miolo da Avenida Paulista, foi feita no Rio de Janeiro, mas poderia ter nascido na Bahia ou em Curitiba, só pra variar um pouco. Fez um ano de Direito, um semestre de Gestão Ambiental, é formada em Letras e pós-graduada em Comunicação e Marketing pela Universidade Castelo Branco. Vive se apaixonando pelos saberes, crença só tem em crianças, no amor, em desenho animado, nos sonhos, no teor eletroquímico do pensamento e em interdisciplinaridade (já fez cursos de extensão em Assessoria de Imprensa, Psicanálise, Animação, Direitos Humanos). É viciada em seriados de investigação criminal, em cotonetes, compra livros novos sem ter lido alguns antigos, tem o paladar mais exótico do que de avestruz (e se orgulha disso). Já teve vários subempregos, foi assistente em revista científica, faz revisão de textos para agências de publicidade, documentação técnica, identidade visual, vídeos e textos corporativos. É autora do livro infantil Meu Grande Avô, publicado pela Editora Uirapuru. Possui outros projetos de livros infantis, ensaia ilustrações e tem artigos de opinião, contos e poesias publicados em revistas eletrônicas e sites. Ativista em grupo Pró-Direitos Humanos, também é colunista no Programa Território Animal. No momento se encontra perdidamente encantada por Neurociências e tem vontade de produzir textos para Cinemawww.programaterritorioanimal.com.br | www.laboratoriodathali.blogspot.com

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