filosofia
viver como se tudo
viver como se tudo
desse em nada
tudo dissesse nada
e o nada fosse
a única pergunta possível
unoverso
um poema que não nos tomasse
mais do que um único verso
que fecundasse essa noite
numa úmida e só palavra
numa única e só sílaba
menos do que isso
num arfar
serpensar
ser
pensar
sentir
o vento
ar
ser
pensar
sentir
o vento
ar
em repentino
movimento
serpente
ar
o sentido
o momento
tempo doravante
serpente
ar
o sentido
o momento
tempo doravante
ciranda
beatriz & dante
medida circular
serpente
inferno
amante
beatriz & dante
medida circular
serpente
inferno
amante
da natureza das coisas
assim como
a voz do peixe
é o murmulho do rio
a vocação da nuvem
é dar rosto ao vento
e do gosto da rosa
é se paramentar com espinhos
próprio da tarde mansa
é devanear o tempo
quem percorre a sombra das coisas
engatinha no segredo delas
e ilumina o livro do dia
da identidade do mar
álgebra abstrata
cardume de números estrutura repetitiva
paradigma marítimo
caracol labirinto
algoritmo infinitesimal
algo lívido nobre vívido
álgebra abstrata
cardume de números estrutura repetitiva
paradigma marítimo
caracol labirinto
algoritmo infinitesimal
algo lívido nobre vívido
algo ríspido forte bíblico
algo líquido lúcido lógico
algo mítico inédito nítido
fluxograma narrativo
sequência lógica
das ondas
máximo divisor comum
das águas
iteração:
algo mítico inédito nítido
fluxograma narrativo
sequência lógica
das ondas
máximo divisor comum
das águas
iteração:
memória limbo
memória ram
memória limbo
memória mar
memória limbo
memória ram
memória limbo
memória mar
oceano linguagem
memória ram
memória limbo
memória mar
memória limbo
memória ram
memória limbo
memória mar
oceano linguagem
ocaso
o sol se põe
como quem se põe
no lugar de um amigo
breve instante
em que a noite
não se opõe ao dia
o ir do sol supõe
antecipar estrelas
solapar trevas
e conspirar silêncios
naquilo que tudo
em tempo se torna
tanta ausência
nem a luz explica
onde eu estava
quando você não veio?
no conforto da noite mais lúgubre
no conforto da noite mais lúgubre
escreve o poeta seu parco legado:
escreve o poeta seu parco legado:
uns rotos e malbaratados versos
uma melancolia que recusa razão
prisioneiro de sua própria infinitude,
sem ponto de partida ou de chegada,
o poeta em si permanece imóvel
enquanto golpeia a mente em vão
aos que tiveram a coragem de se ir
e em noite assim se lançaram do cais
o poeta, coerentemente, lhes diz não
e por entre tormentos e dissipações,
a vida marcada por silente ausência,
perscruta a sombra azul da infância
Ilustrações: Marcelo De Angelis
Marcelo De Angelis é
natural de Porto Alegre
e radicado em Curitiba,
é formado pela UFRGS
em Comunicação Social
e atua na área editorial.
Desenho e pintura são
suas outras paixões
irremovíveis. O tempo,
que é o indivíduo são
temas recorrentes em
sua produção, marcada
típico de quem confia
mais na memória,
inventada ou não,
do que naquilo que vê.