Acordar e ter um nariz enfiado no cu ou precisar da leitura de um dos Evangelhos, aquele no qual Cristo morre sujo como um cão, feio feito um deus que perdeu o fígado em uma briga de velhinhas – Ah! Sempre as velhinhas!
“Aonde você vai, amor? ”
“Sair”.
“Certo. E quando você volta?”
“Não sei. Cedo, talvez. Não demoro. Não se preocupe, querido. Vá dormir.”
Sim, vou dormir. E nessa noite tenho uma cabeça a mais. E sabemos das bombas. E de como ver o mundo em preto e branco. E entendemos que meu Traumraum evita que eu te estrangule como me ensinaram no judô há tanto tanto tempo que me esqueci already. Sabe, Alice? Sou um homem que perdeu as pernas em um bombardeio de pianos.
Goyastadt é um Lager às avessas.
Rumor que desenha vozes profundas.
Alice, Alice. Esta é uma paisagem que devora homens. Do 13º andar voam moças todo o tempo.
E um BOM DIA em coro de prostitutas não pode ser sinal de felicidade.
“Vamos ter um filho?”
“Vamos. Quero um nome bíblico.”
“Que fofo! Qual?”
“Barrabás. Ou Pilatos.”
Padecei entre os porcos e encontrai a felicidade! Padecei, homens! Quando Deus nomeou os animais todos teve a Fúria entre as pernas. E deslizou entre a terra e o mar. Cansou-se. Acreditei nisso. No Modell Wien. Quando você disse, I can fix it. Não, Alice. Você não pode. Ninguém pode. Quando precisamos de outro estômago para abrigar o álcool nosso. Onde Deus.
Há algo errado comigo, Alice. Algo químico.
“Você me deixa cansada. E tudo em você é tão pesado. Você reclama todo o tempo. E sofre. Eu quero ir embora.”
“Mas você queria. Você disse isso. Eu me lembro.”
Quando um novo amor é a mesma coisa. Quando um novo amor é sempre a mesma coisa. Quando um novo amor é um trapo estranho em um caixa de remédios. Quando uma caixa de remédios voa voando pelo quarto. E tudo para. Estou onde mesmo?
“Eu sou sensitiva, não consigo lidar com esse seu pessimismo, com essa sua energia.”
“Caralho, Alice! Que porra de energia?”
“Falta amor em você. Você não ama nada.”
Tenho um prego na mão esquerda. Eu cresci em uma ferragista, percebo de pregos. Quando criança, antes bem antes do Protektorat, havia amor no mundo, mas havia também meu pai. E meu pai era Senhor de uma violência sublime, fina. Dessas que dão de comer aos monstros. E assustam os assassinos.
Sinto o Ar. Sou este homem, Alice. O que você não entende é que estou bem aqui. No final, no apodrecer dos corpos, Sabbath está certo: não vou sair daqui porra nenhuma. Esta é minha casa.
Valium é o nome de um rio.
***
*trecho de “Goyastadt”.