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5 poemas de Goulart Gomes

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Ilustração: deviantART



SOCORRO PRONTO


shampoo para queda de cabelo
aspirina para dor de cabeça
se quebrar o braço, engessa
e cachaça para dor de cotovelo

qualquer coisa serve pra virose
chama a Neosa, que é mulher de raça
se doeu, passa gelol que passa
se não resolveu, aumenta a dose

pra curar o porre, estomazil
melhoral é melhor e não faz mal
se tá enjoado, sonrisal
quer sumir, é só tomar doril

pra espinhela caída, sabiá
tá azeda? Scott em emulsão
pra vazio no peito, xarope Brandão
mas o seu mal, só eu posso curar...

agite-me, antes de usar.




REPRODUÇÃO


deles não ficou
semente, mensagem ou filhos
que vale a vida sem  continuarmos
na pretensa imortalidade do futuro?

do fruto do pecado, peco
óvulo infértil
casca grossa  de pau-d’arco

como se reproduzem as nuvens?
o vento as engravida?
ou as gotas que evaporam, as fecundam?

versos não fazem o seu papel
enquanto não são escritos
não lhes perdoo existirem...
assim como a mim mesmo




O DIA EM QUE MORREU DIADORIM


O dia em que morreu Diadorim
Todas as flores murcharam no jardim

Quatro tábuas cortadas a facão
Apregadas compuseram seu caixão

Redemoinhos se formavam no terreiro
E o vento apagava o candeeiro

Não se ouvia um pio de acauã
Labaredas arrastavam a manhã

Nem um boi mugia no curral
Nem um soluço saltava do embornal

Nem um passo, nas veredas, se ouvia
Nem a lua, que tudo alumia

Abriu seus olhos, claros, como os dela
Em cada canto da mesa uma vela

O seu corpo todo foi lavado
Pelas lágrimas de dor de Riobaldo

Todo amor, de alguma forma, tem seu fim...
O dia em que morreu Diadorim




NA LINHA DO TEMPO


eu sei que é perda de tempo
tentar lhe convencer
que o tempo não existe
se o relógio insiste
hora após hora
em bater

Einstein já falou
que tudo é relativo
e esse momento marcado
gravado, incisivo
já passou

o caminho que eu faço
em um ano-luz
você leva a vida inteira
pra fazer
mas se no seu tempo
tudo flui
quem sou eu pra desdizer?

se sob o seu olhar
tudo congela
o ponteiro dos segundos
até espera
e nada mais se faz
cessa a pressa, o alvoroço
outono vira primavera
e o velho vira moço
em frente ao espelho

no meu tempo era assim:
o caminho valia mais que o fim
e a pressa, essa
não valia nada
se queríamos a perfeição

desejo mesmo
que seja tudo pra ontem
pois assim eu voltaria
ao anteontem
pra nunca mais sair

não me venha dizer
que é urgente
nem eu
nem você
nem ninguém
vai ficar pra semente
o tempo é kairós
e quem passa por ele
somos nós

por isso só lhe peço:
daqui pra frente
dê um só passo
de cada vez
e se deixe flutuar
na fluidez
do ritmo que cada coisa tem

cada um escreve a própria história
e deixa registrado, na memória
o feito, o jeito, o fato
o gosto, o tato, o cheiro
e não as cicatrizes dos ponteiros




TEMPO IDO


Eu hoje acordei, de madrugada
Com o som da tua voz em meus ouvidos
O cheiro do teu ventre em minhas coxas
E o veneno do teu sangue em meus sentidos

Abri os olhos, e ainda em vigília
Era como não tivesse já dormido
Rolei na cama, apertei o travesseiro
Sentia todo o corpo entorpecido

Para o meu ser, ainda confundido
Estive com teu corpo em minhas mãos
Umedecia-te o clitóris entumescido!

Lamentei tudo que podíamos ter vivido
E relembrei os versos da canção:
Alguém amar-te mais que eu... duvido!




GOULART GOMES nasceu em Salvador, Bahia, em  1 de maio de 1965. Administrador de Empresas, pós-graduado em Literatura Brasileira (UCSAL) e  em Gestão de Comunicação Integrada (ESPM-RJ). Atua na área de Comunicação Empresarial. É numismata e pesquisador de ficção científica. Fundador do Grupo Cultural Pórtico (1995) e criador da linguagem poética Poetrix (1999). Obteve 69 prêmios em concursos de poesia, prosa e festivais de música e participou de  54 coletâneas publicadas no Brasil, Cuba, Espanha, USA, Itália, França e Coréia do Sul e tem trabalhos divulgados em vários outros países. Atualmente é o Coordenador do Movimento Internacional Poetrix. Como editor alternativo propiciou a publicação de 56 livros e coletâneas de novos autores. É professor voluntário de Literatura Brasileira, no pré-vestibular social Ação Pela Educação. Publicou Linguajá (poesias); Minimal (poetrix); Todo Tipo de Gente (contos) e Vós Sois Máquinas (FC), dentre outros.

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