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Suave como a morte - André Luiz Cosme Ladeia

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Ilustração: Denis Butorac



“Guerra”

Na Guerra
Os homens
Carregam
Os
Mortos;

As mulheres,
As crianças;

Os nômades,
As sacolas;

Só a vida que é
Deixada para trás.



“Tortura”

A gota d´água caindo devagar,
A luz ligando e desligando
Ininterruptamente
O choque frio
A unha sendo retirada
A cabeça mergulhada
A dor, a sede, a fome,
O espelho
  


“Primeiros Versos”

Da rodoviária estropiada
Escrevo esses versos
Como quem morreu
E não conseguiu voltar

Os primeiros versos são eternos
Porque a alma assim o quis

Revisar sob o pálio da perfeição
Seria como mutilá-los
Tornando-os impuros

Os primeiros versos são inofensivos
Como o primeiro amor

Por que o poeta haveria de saber mais que o espírito?
(De ser mais pretensioso?)

O poeta é o instrumento da alma
que tem a contumácia em não se calar.



“Conversa com Crítico”

Certa vez conversei com um crítico famoso
Laureado com alguns dos maiores prêmios
Da língua portuguesa.

Naquela ocasião, ele me disse que não lia novos autores
E que havia um “choque de geração” entre eles
- o que impediria o diálogo.

Enfim, era um desses intelectuais esnobes e envaidecidos
Como os parvos prêmios que cultivava.

O que ele não sabia é que dentro
de dez, vinte anos de sua morte
Ninguém mais se lembraria dele,
Enquanto os autores que ele soberbamente dispensou
Ficariam eternizados pela história.

A poesia é cruel com a crítica
Porque é através dela que se reescreve a história.




André Luiz Cosme Ladeia nasceu no Rio de Janeiro, em 1983. Atualmente, mora no sul de Minas. É autor de “Suave como a morte”, seu livro de estreia publicado pela Editora Penalux.

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