entoemos o novo mantra: "foda-se este copo descartável"/ a facilidade de acesso/ a oferta/ os repositórios ao alcance das mãos de todos aqueles que tem sede/ a consciência do desapego/ entoemos o novo mantra: "foda-se este corpo descartável"/ entre tantos outros propósitos, que nós/ enquanto objetos/ evocamos/ a cadeia de desdobramentos que provocamos// façamos do uso dos copos descartáveis algo há muito buscado ou elevado à sabedoria universal/ do conhecimento tradicional ao industrializado/ entoemos o novo mantra: "foda-se este copo descartável"/ um hino ao aprendizado da finitude/ depois do uso/ apenas o descarte/ simples/ íntimo/ não há porque guardá-lo/ entoemos o novo mantra: "foda-se este corpo descartável"/ nada se exige dele senão arremessá-lo sem culpa e sem apego/ aguardemos para logo o nirvana de milhares/ entoemos o novo mantra: "foda-se este copo descartável"/ serão tantos os novos iluminados depois de seus cafezinhos despreocupados/ de suas doses de água regradas a recomendações contra a desidratação generalizada decorrente do verão avassalador/ entoemos o novo mantra: "foda-se este corpo descartável"/ tão logo consumido o líquido/ o arremesso do copo/ para longe/ para fora da própria órbita/ entoemos o novo mantra: "foda-se este copo descartável"/ foi importante tê-lo/ cumprido o imprescindível papel do abastecimento de pequenas doses/ tão logo cessa a relação/ ahhhhh o prazer de jogá-lo fora/ entoemos o novo mantra: "foda-se este corpo descartável"/ na mais absoluta contra-mão do gesto ecologicamente correto/ entretanto a mais libertadora disponibilidade para o desapego do último século/ a oportunidade de ouro/ a chance daquele clique legítimo/ pela janela do carro/ nas auto-estradas/ entoemos o novo mantra: "foda-se este copo descartável"/ pelas ruas e vielas/ no asfalto/ quando ninguém está olhando/ é quando a prática adquire sua eficácia/ entoemos o novo mantra: "foda-se este copo descartável"/ algo entre intimidade extrema e consciência plena/ "foda-se este corpo descartável"/ alguém ganhou muito dinheiro fabricando-o/ para que alguém ganhasse muito mais vendendo-o/ para que alguém o catasse fazendo da reciclagem um negócio de milhões/ entoemos o novo mantra: "foda-se este copo descartável"/ para que o planeta se foda cada vez mais/ eis a beleza do ciclo/ eis o aprendizado do transitório/ eis o budismo possível/ aquele que o capital permite/ entoemos o novo mantra: "foda-se este copo descartável"/ para que os mortais possam atingir a iluminação por intermédio desse reles gesto/ para todo o sempre/ agora e na hora de vosso descarte, amém: "foda-se este co(r)po descartável"...
ADQUIRA AQUI
ESTES MARAVILHOSOS PRODUTOS
E CONCORRA À ILUMINAÇÃO
POR SORTEIO!!!
PARTE 5
* * *
Alexandre Guarnieri (carioca de 1974) é poeta e historiador da arte. Atualmente pertence ao corpo editorial da revista eletrônica Mallarmargens e integra (desde 2012), com o artista plástico, músico, ator e poeta, Alexandre Dacosta, o espetáculo mutante [versos alexandrinos]. Casa das Máquinas (Editora da Palavra, 2011) é seu livro de estreia e está disponível online (no issuu.com). Publicou poemas em revistas e jornais, dentre eles o Panorama da Palavra, Urbana, O Carioca, Suplemento Literário de Minas Gerais, dEsEnrEdoS, RelevO, Eutomia, Zunái, Musa Rara, Acrobata e Germina. Em 2014, participou das antologias Essas águas (Org. Vagner Muniz, 2014 [ebook]), Hiperconexões: realidade expandida, volume 2 (poemas sobre o pós-humano; Org. Luiz Bras, Patuá) e Outras ruminações (75 poetas e a poesia de Donizete Galvão; Org. Reynaldo Damazio, Ruy Proença e Tarso de Melo, Dobra). Seu mais recente livro Corpo de Festim (Confraria do Vento) será lançado em breve.