outra estação
no guichê
em letras garrafais
lê-se
ESTAÇÃO DA POESIA PÓS-MODERNA
a moça atrás do vidro anuncia
está atrasada,
senhora
sem bilhete,
não pode embarcar
perco o trem
parada na plataforma
o corpo trepida
o som das rodas
atritadas nos trilhos
afasta-se
ecoa entre o olho
e o artelho
signos tremem
em casa
aves noturnas
palavras
não me deixam dormir
na sala
um tear
fios de insônia
bilros para bordar
nova condução
outra estação
para lugar nenhum
mamãe trazia lixo na bolsa
às quatro e meia ela chegava
era gari
se a casa não estivesse limpa
apanhávamos
trazia lixo na bolsa
comida revista livro
se achasse cigarros fumava
se achasse terço rezava
mamãe foi a primeira ambientalista que conheci
a vida
não fosse esse péssimo hábito
certamente inventado por barbados
de pensar que para mulher perdida
só homens são lugar
eu bem que queria
ser mulher da vida
deusa de festim
ando cansada de ser mater dolorosa
uma miríade de deusas da fertilidade
só para a gente padecer no paraíso
que falta me faz uma deusa de festim
na próxima maternidade juro que perco o juízo
e trato de parir um tamborim
moscas de bar não batem ponto
vem do cativeiro
beco da manhã
a voz solene
venda-se
ao sonho do sucesso
Norma de Souza Lopes, autora do livro de poemas Borda (Patuá, 2014) , mineira, de Belo Horizonte/MG, 1971, é Poeta e Professora. "Escrever é essa costura cotidiana quando posso tecer e juntar as pontas soltas da memória." Escreve no blogue Norma Din: