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POEMA DE JULIANA HOLLANDA

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Sobre demolições e água na boca  


(IV)

quem somos nós para entender
o amor está preso
nas gavetas, frestas, tapetes

[é poeira engolida pelo aspirador de pó]

descansa no filtro de pano
misturado com fios de cabelo, miçangas
e pelo de cachorro

[restos de incenso, cinzas de cigarro]

o amor é uma sujeira
que permanece
e por mais que a diarista insista
em tirá-lo do meio da sala
não consegue

ele é transportado pelo vento
mistura-se ao movimento da casa,
entra pelas janelas
que são mantidas abertas
para ventilar

não tem rodo, pano de chão
e nem detergente
que limpe esse assoalho sujo
chamado amor

ele continua vivo
nos cantos da sala,
nas frestas e embaixo das estantes

ele é um fracassado,
um parasita
e não desiste
de reaparecer - sanguessuga -
nas gavetas encharcadas de sangue,
sujeira e dor


no coração







*    *    *








*    *    *



Carioca de 1978, Juliana Hollanda atua na poesia desde 2005 (CEP 20.000, Ponte de Versos e etc). Além de fazer parte do trio de poetas "Madame Kaos" (com Beatriz Provasi e Marcela Gianini), também compõe a dupla "Ju & Juju" (com Justo D'Avila). Possui três livros publicados: "Acordei num Iceberg" (Ibis Libris, 2008), "Entre sem bater" (2010) e "Vertentes" (2012), os dois últimos, independentes, editados por Tavinho Paes para a coleção Heart.Action. Atualmente trabalha em “Juju in the Box” (a ser lançado em 2014), também em parceria com Tavinho Paes.





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