Quantcast
Channel: mallarmargens
Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

Acalanto - Davi Kinski

$
0
0


Ilustração: George Siamanis



Sabe quando a cidade transborda as marginais de um tempo que não passou?
Talvez teus néons traduzem essa sua maquiagem artificial
Uma beleza feita desse ópio de cidade muda
A poesia de pedra
Tem gosto de catraca corrida
No metrô em horário de pico

Passa, passa como pedestre em avenida larga.
Passa, passa e não sorri de graça no semáforo metal.
Passa e passa cada mão suada uma historia ouvida
E passa na vida essa métrica mecânica dos meus olhos tortos

A vida escorre no centro da cidade feito corrimão
Pernas longas de Anhangabaú
Faz tempo que o vento leste inunda as gangorras de valores
Listrados ternos cruzam em sincronia pura os andares de luxo
Cada qual tem destino de vinco
Acertados feito relógio suíço

Faz dias que a maré subiu na Santa Cecília
Faz dias que subi a avenida mesclada
Abrace-me bueiros e pedras
As lagrimas escorrem do meu asfalto ao teu
Late como jesuíta na inquisição
E explode a ordem da história
Nada completa na cidade que engana

Era feita de ópio a Meca de cocaína
Paraísos artificiais em cada esquina
Estupro e gosto de destruir minhas retas avenidas
Me encharco feito menina na Augusta, com pernas longas e cinta-liga.
A sombra completa o cemitério volante
É um desfile notório de caixões ambulantes

Por isso te acalme as coxas complete sua vida com minhas ruas paralelas
Feito metade de um trânsito
Então te desacelere
E me bata com tuas faixas brancas no negro asfalto
E acalante minhas mágoas de pedra
Como em uma roda-gigante de solitários
Me dê a mão no alto do parque
Tenho certeza que vamos conseguir conquistar as ruas de ladrilhos claros.


Davi Kinski

Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548