à prova de bala
subtraíssem de cada projétil o motivo de sua existência [raspam resvalam desviam enganam/ tantas quantas fossem as balas disparadas/ de aço/ de prata/ de tantas quantas fossem as armas/ de bazucas a espingardas/ das ágeis às estúpidas/ mosquetes entre estilingues de delinquentes e os frágeis bacamartes dos covardes] um alvo blindado quase se iguala a nada/ quase se apaga/ enquanto avança desapercebido a cada passada calma do passeio sorrateiro pela mais complexa batalha [se lhe cuspissem brutalidade contra o rosto/ contra a cara/ o tórax/ o couro grosso/ o kevlar irreversível do colete ou o chumbo no escudo robusto desse adversário blindado/ é um touro/ um tanque/ o corpo fechado/ a súbita armadura/ ainda invulnerável] persevera (infiltrado) sobre todo e qualquer estrago causado ao seu redor [ ele (incólume) ] imune à toda e qualquer dor porque interiormente protegido [ e ainda agindo ] e continua vivo no centro dessa teia de ricochetes [sua absoluta refratabilidade não aceita diálogo contra quem o perfura/ contra quem o perturba ou adula/ contra quem busca adentrar sua órbita interna/ ou comprometer-lhe a integridade mais secreta/ contra quem se debruça, indesejado, sobre seu lugar de honra/ rei ocupando o trono/ general em comando] muito embora tal blindagem não resistisse (letal e infalível, contra as dobras de cada couraça) ao impacto direto de uma ogiva nuclear armada [contra a radiação do amor sequer restam brechas entre as vértebras, entre as células, fosse ainda um coração de robô ou o escafandrista no mar alienígena, em cenário de ficção científica.
imagens: "Cherubim" de Bansky, Londres
PARA AMAR,
USE KEVLAR...
OU AGUENTE
O QUE VIRÁ...