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Videoteca: "A Puta" de Márcia Barbieri

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"As duchas intestinais não resolvem mais o problema, é tua alma que está contaminada."





por Lisa Alves

O corpo, a carne, o sangue, as vísceras, o magma, os primeiros mares, as primeiras criaturas, os mitos, a ciência, a filosofia, a arte, a guerra e a cópula compõem um corpo colossal, uma estrutura andrógena, um ser divino ou como Márcia Barbieri a define “uma simples partenogênese”.
A Putaé uma obra repleta de vozes, consciências interligadas em uma narrativa de sonhos/pesadelos/reais capazes de erguerem uma guerra atemporal – um combate sem brasões e sem tempo para findar. Basta permanecer vivo para ser lançado ao front: “Trazemos o germe da humanidade em nossas trompas, nada que multiplica pode ser inocente.”  
Segundo Freud os sonhos são originados por dois elementos fundamentais: a condensação e o deslocamento – elementos responsáveis por coletarem partes de diferentes períodos da formação de um ser e os reproduzirem através de símbolos. Barbieri simboliza em sua obra fragmentos da história humana por meio de uma das funções mais antigas da humanidade e que em outros tempos era considerada uma ocupação sagrada – associada à Grande Deusa.
A narrativa é inteiramente rica de aforismos e metáforas “Todos os dias nos enfiam um pau duro no rabo. E tiram antes que se chegue ao gozo” e leva o leitor a uma atmosfera aparentemente surreal, contudo a realidade é a cereja envenenada do bolo – percebe-se um território sócio-político-cultural perfeitamente combinado com as películas de Cláudio Assis que mostra que o feio e o sujo não estão no exagero da cópula e sim na exploração, na desigualdade e na miséria (a mais obscena das palavras).
Fortalecida por uma prosa poética (marca da escritora) a obra se destaca pela profundidade, pela poesia imagética, pela acidez e força de suas personas – sem as supérfluas descrições que substituem as sensações e a subjetividade das personagens pelo objeto inanimado, pela coisa, por tudo aquilo que não faz a menor diferença em qualquer universo. É como a própria personagem da obra afirma: “a escrita não passa de uma tentativa idiota de dar vida a marionetes, a criação não é capaz de suprimir a representação e a representação é uma banalização do real.”
A Puta transmite ao leitor um desejo de significação, pois em um universo cuja sacralidade de Eros é tida como unânime é complexo aceitar uma origem literária advinda do Caos. “Ordenou que eu descruzasse as pernas, me levantasse, arrancasse a roupa porque queria um amor sem nódulos, sem nervuras, sem liames, sem juncos.”




O Romance A Puta de Márcia Barbieri será lançado dia 06 de setembro na FliParanapiacaba pela Editora TerracotaMarcia Barbieri é paulista, formada em Port./Francês pela Unesp, pós-graduanda em Prática de Criação Literária e mestranda em Filosofia. Lançou em 2009 o livro de contos Anéis de Saturno pelo Clube de Autores. Lançou em junho do mesmo ano um livro de contos intitulado As mãos mirradas de Deus pela editora Multifoco e em 2013 o romance Mosaico de Rancores pela Terracota no Brasil e  pela editora Clandestino Publikationen na Alemanha.



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