UM ÊMBOLO DE SIMBOLISMO
Vento – um vento te aflige –
Te castiga bem ou mal;
Olhos – uns olhos de esfinge
Numa brisa de metal;
Cinto de flor te cinge –
Um precipício afinal;
Terror que te regozije –
Tua exigência é mental;
Range, ruge, atinge –
Cada qual teu catatau;
A vertigem da vertigem:
Te viu, te veio e crau!
SIMBOLISMOVOOCONGRESSOCARNALESPIRITUAL
De novo: sim, o simbolismo é erótico,
Mas mais no senso do Eros deus-desejo,
Princípio da atração, fervor hipnótico
Da amada que me vê como eu a vejo,
Ou sequer me vê: sente em som sinótico
O efeito transcendente deste beijo,
Estímulo mais fundo que o nervo ótico,
Ataque no atacado e no varejo,
No corpo e na alma, na essência e substância,
Feito ânsia mais análoga do que ânsia
Que os Anjos não cantam. Lá em letra theta,
Em códigos de línguas, corpos nus
Que em vez das posições dos cangurus
Adotam voos de Emiliano Perneta.
ALMA PASSANTE
A rua matava surdo a buzinada.
Faróis e placas falavam ao mesmo tempo.
Meu pé: dependurado na calçada,
Mas o olhar já contornava o cruzamento.
Percebi que perseguia uma passante
Quando ela viu também que me seguia.
Disfarcei e ela disfarçou no mesmo instante.
Fiz que fui e não fui, e ela ia mas não ia.
Fiz cara de mais velho, ela se deu ar de menina.
Saí pela esquerda, ela, pela direita.
Esbarramos logo na outra esquina,
Cúmplices abaixo de qualquer suspeita.
MAL
MAL
LAR
ME
LI
VRE
não vejo mais aquela que num bar me caça
na nossa carne triste uma frágil barcaça
assiste a um fim de missa ao capitão fracassa
e não sobrou poção nesta cabaça escassa
procuro um leito de procusto que revele
até onde se lê neste verso vela ou pele
se foi nela uma tela a bela cela dele
um paralelo entre bacante de biquíni
e tosca execução da tosca a toscanini
num filme de fellini refilmado em rimini
um símbolo de sim tropeçando num toco
bolando um bolo simbolista com ovo oco
coadjuvando um zebu e um gnu e um urubu
para picar o pé de um mestre do kung fu
surge a convocação ao nu de uma surucucu
coloco um lírio em fundo verde e reverdece
só quero ver se sóbria a barca sobe ou desce
nesta maré crescente um livro sobrenada
nele acrescento só o que livro sobre nadaIlustração: deviantART
Ivan Justen Santana é curitibano de pai e mãe curitibanos, nascido em 1973. Poeta, tradutor e pesquisador, formado em letras pela UFPR, mestre em tradução literária pela USP. Bloga poemas e traduções desde 2004 em http://ossurtado.blogspot.com