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17 POEMAS DE "BARROCIDADE", DE AMADOR RIBEIRO NETO

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mallarmé


nas
bibliotecas
estão todas as histórias       D              IT        O
nada de nada      IN       FINITO




frederico barbosa


sem sono sem pedra sem poemallarmécampos

sem-sal
sem-céu

átimo sentido
nem

sem-sol
sem-sus

tenido haber
oswaldoído

sem-norte-cactusiano
nem que

zanzeiras enxaquecáguas
coleirizando amarelos

qual cabra
afiadas facas

sem-sei-o
sem-cio-de-si

carneviais
arrecifecem-se

qual
os quês-quereres




arribação


sampa paraíba samparaibano da gema
como
um ítalo-sertanejo que do bexiga desceu em

lagoa tapada atrás duns versos açuns dispersos grande
movimentos adonirançando malocas saudades
ah aquele cruzamento da canção
pode




pomba


cães são sempre cães vadios
mães são sempre mulheres santas de nossos pais
espírito santo
quase sempre é pomba
sempre funciona pomba
gira 








recato


telefone e-mail fax correio
ligações estão ficando perigosas demais
literatura já deu cinema cinema
deu cama em motel de segunda
a sábado menos domingo deus sabe lá por que diabos este
caso pode dar dor de cabeça brabas em sendo
assim eu li em camões nos tempos de ginásio inês é morta já
não sou mais bobo de voar de avião asa delta coração
sem reservas




a filha

para a mariana


a filha arquiteta um caminho
seguro secreto sem medo
a filha
sabe da vida
como segurar segredo
com moldes & modelos
de um mundo 
sem apegos
a filha
estuda dirige trabalha
a vida
dela
&
minha
em discagem direta
à distância




rio de janeiro em janeiro

para o bernardo e o pedro


o menino cresceu guinou pra guitarra pro uivo pro grito pro berro
me diz que é assim que se faz pra ser feliz
menino nasceu de mim
agora é estrangeiro de si em si
de mim em mim
 



rita lee 


filho acha que é pai & mãe & 
que pai & mãe já de cara eram

erram 
um oráculo só-rdido

desentendido do tempo
filho é difícil

gosta de ostra
cisma coisas

cisca loisas
esquece chave

acaba mesada
pede carro

filho enche o tanque da gente
de álcool

& era 
gasolina




fococarneval 


barba boca língua  pescoço romance de machado
suores perfume de hotel de segunda 

a segunda
segunda
subliteratura no pacote do shopping

pentelho dente cuspe baba
boquete
derci avisa hilda  hilst é outra 

cuzinho cursor

pau no olho do cu
mexendo poesia verlaine
fazendo pose de yoga

inda bem que na polaroid meditação
um dois três
 
fudeu
fungou

fungou
fudeu

tudo 
pode

foco
no foco

mamãe 
sacode




chico césar


corpos da noite
in rave cidade indantiga

(o) ga(s)to (o) rapa 
carnes ó ovação

lança-confete
páginas do diáriorgia

festejos
a proesiafogaréudelíngua(s)
  
fogos
corpos
em  casa brasa na boa de um fogão








glauco mattoso


o poeta
neo-saradésimo-pós-irado
todo
leu ora bilac direis na escola


deu sorte 
conheceu pedro o podre numa marginal
de olivette na mão

fez boquete
chupou  chupou
negão um pé outro pé
dentro fora
&

desde então língua é tupinik  sputinik  mangueirice 
santos  guaranis for all verde-rosa-sagarana

poesia gol trave em placaetânica
amor diz nome
igual igual




quaresma


a boca
chupa-chupa 
fúria das freiras no carnaval
quartos
depois vem a quaresma
canetas 
elas dizem
paredes
jejuar faz parte do arsenal




sustança


do barro
do pigmento
da pedra
da madeira
do papel
do fogaréu elétrico
dos graus
todos os desafeitos cravados a 
ferro




paulo leminski


(o) ofício 
(é) suicídio

(que) por fraqueza 
(&) força de vontade


(não assino)









tomie othake


falta ar falta fôlego 
&

rã tanque-trapézio 
boá

imagine john 
lennon

nu

isso &
oco

é
isso

ó

teatro




ângela rô rô


dinovo

dinovação 
nada porra nenhuma

só aquele merda
dedo pontal dedal us ulisses meu gato

dia após
claricedia

imagina vagina
falta 

imaginação
dear faz ready made faz

finge lígia
fingers
ô bicho




augusto de campos


então é assim
é

ah 
é

depois de falar tudo
de contar tudo
de relembrar tudo
pós-tudo
sobra 
o teclado da internet

mudo






*    *    *


SOBRE BARROCIDADE


Da torre ao torrão, do barro ao ferro,
da pedra ao pó, a barroca urbanidade
que Amador desconstrói nos sugere
que a poeticidade ainda pode ser encontrada
nas menores partículas duma cultura
detonada e sucateada.

Glauco mattoso



*    *    *




Amador Ribeiro Neto nasceu em Caconde (SP), em 1953. Autor de uma dissertação e uma tese de doutorado sobre a criação lítero-musical de Caetano Veloso, recebendo os títulos de mestre em Teoria Literária pela USP e doutor em Semiótica pela PUC/SP. Está incluído na antologia Na Virada do Século, organizada por Claudio Daniel e Frederico Barbosa. Atualmente vive em João Pessoa, onde leciona na UFPb.  Durante muitos anos, escreveu regularmente crítica literária em diversos jornais de São Paulo.  A presente seleta foi extraída de "Barrocidade" (Landy Editora, 2003). O autor escreve periodicamente na zona da palavra e em barrocidade.




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