Confesso que vi o vento — esta manhã —
passar disfarçado de janela por minha violeta
Sim, esta manhã, confesso que vi o vento
passar disfarçado de violeta por minha janela
Assinei, como vento, esta manhã, minha sentença final:
Execução por sintaxe, lavra por lavra, sinal por sinal
Estava noutra esfera esta manhã. Comovido da vida
Pensava em bigorna, ferradura, carabina, roda, espora
Minha alma quer martelo agora – amalgamar esta manhã
com a manhã de amanhã, é o que mais ela quer...
Minh’alma algemada ao caos, feérica e furtiva
Essa coisa dura de dupla naturalidade, alminha mimada
Alma desdenhada que clama, reclama, implora catarse
Adora promover tempestade a troco de nada
Agora, fervorosa, quer que todos saibam disso
Sim, esta manhã, confesso que vi o vento
passar disfarçado de violeta por minha janela
Assinei, como vento, esta manhã, minha sentença final:
Execução por sintaxe, lavra por lavra, sinal por sinal
Estava noutra esfera esta manhã. Comovido da vida
Pensava em bigorna, ferradura, carabina, roda, espora
Minha alma quer martelo agora – amalgamar esta manhã
com a manhã de amanhã, é o que mais ela quer...
Minh’alma algemada ao caos, feérica e furtiva
Essa coisa dura de dupla naturalidade, alminha mimada
Alma desdenhada que clama, reclama, implora catarse
Adora promover tempestade a troco de nada
Agora, fervorosa, quer que todos saibam disso
Par de óculos trincados
Netuno empaludado no próprio tridente
Algas navegantes
Velas, remos, brisas
Mamíferas carcaças
Areia, sereia, prancha
Um albatroz alvejado
Cheiro de moluscos no crepúsculo
Netuno no próprio tridente
Balaio de espuma
Ondas cristalinas
Moluscos de óculos escuros
Frutos e conchas raras
Cheio de areia e de amor o mar, cheio de chamas
O mar cheio de estrelas, quilhas, quinquilharias
O mar cheio de ramos, oferendas, murmúrios, maresias
Cheio de Netunos, vodus, turistas, gatunos
Seja por esculacho ou escracho
Quero a escritura reveladora da ruptura dos sentidos
-- de absolutamente todos, inclusive dos preteridos!
A escritura fratura frutificamente póstuma
A escritura pós-prótese desfuturizada
Sanitizada do status quo concretizado (quanta quimera!)
Quero anotar a causa mortis da ortografia ordinária
Da vida sedentária quero o desenlace
Nua e suada a escritura da minha geração
A escritura puta que tenho nas mãos
Seja por esculacho ou escracho
Quero a emancipação da palavra estigma
A escritura com feitio de crânio de pai na mão de filho
Que declama (que drama!) poema apócrifo
Que quer levantar defunto e levanta
Quero levantes, quero levantes atrás de levantes
Por o ponto no começo da conversa, não no final
Como o quero-quero, repetir, quero quero
Quero a escritura reveladora da ruptura dos sentidos
-- de absolutamente todos, inclusive dos preteridos!
A escritura fratura frutificamente póstuma
A escritura pós-prótese desfuturizada
Sanitizada do status quo concretizado (quanta quimera!)
Quero anotar a causa mortis da ortografia ordinária
Da vida sedentária quero o desenlace
Nua e suada a escritura da minha geração
A escritura puta que tenho nas mãos
Seja por esculacho ou escracho
Quero a emancipação da palavra estigma
A escritura com feitio de crânio de pai na mão de filho
Que declama (que drama!) poema apócrifo
Que quer levantar defunto e levanta
Quero levantes, quero levantes atrás de levantes
Por o ponto no começo da conversa, não no final
Como o quero-quero, repetir, quero quero
Na tapera vejo que aranha é mato
Picumã cobre as cumeeiras, janelas sem batentes
Portas, só os vãos, e no chão batido, tocos de vela
Cacos de telhas por todo o canto
O telhado pilhado evaporou...
No centro do que era sala
Um crânio de cachorro, ossos variados
Garrafas vazias, carvão da mobília queimada
Na tapera, no meio do mato, o cheiro é de cinza
O silêncio é de cinza, o vazio é de cinza... é de cinza
A poesia retida na lembrança que o escombro revela
De súbito )volúpia de vôo( o ruflar de asas:
Curiango, morcego, coruja, assombração? O que passou?
Mera imaginação… ou recordação do susto que passei?
Talvez a voz das teias que agora uso
para sonorizar estas linhas
Os grilos, invisíveis, indivisíveis, infinitos
Ainda cantam na reminiscência
Entrego rio em domicílio:
O leito, a água, os barrancos
Completo, devidamente embalados
Rio purificado, qualquer volume:
Raso, profundo, calmo ou agitado
Sem qualquer contaminação
Não é sonho o que ofereco
É rio profuso, primoroso
No fundo sou um peixe generoso
De ninguém cobro taxa de entrega
Ligue que entrego com prazer
Atendimento imediato
Domicílio próximo ou distante
Faça enchente seca ou vazante
Entrego rio em sua foz
Pedidos podem ser feitos
Para asklafke@gmail.com
O leito, a água, os barrancos
Completo, devidamente embalados
Rio purificado, qualquer volume:
Raso, profundo, calmo ou agitado
Sem qualquer contaminação
Não é sonho o que ofereco
É rio profuso, primoroso
No fundo sou um peixe generoso
De ninguém cobro taxa de entrega
Ligue que entrego com prazer
Atendimento imediato
Domicílio próximo ou distante
Faça enchente seca ou vazante
Entrego rio em sua foz
Pedidos podem ser feitos
Para asklafke@gmail.com
Poemas e Ilustrações: Aristides Sergio Klafke
Aristides Sergio Klafkenasceu no Estado de Matogrosso no dia 7 de Fevereiro de 1953. De 15 a 32 anos viveu em São Paulo. Mudou-se para os Estados Unidos em 1986. Desde 1989 vive em NewYork onde se dedica às artes plásticas (várias exposições de pinturas) e ao ensino de arte para crianças. Livros de poemas publicados: PABLO (Com Arnaldo Xavier) 1974 ; OSSO GERAL, Edições Pindaíba, 1977;ESQUINA DORSAL, Edições Pindaiba, 1978; OPORTUNIDADE DADA, Edições Pindaiba, 1980;O MISTERIO QUE TEM NO CORAÇÃO TODO BANDIDO, Edições Pindaiba, 82; POESIA VIVA II (4 POETAS), Civilização Brasileira, 1983; A LEGIÃO DOS TRONCOS COM ROSTOS, João Scortecci Editora, 1989