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5 poemas de Fernanda Fatureto

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Ilustração: Horst Schmier



Paralelas


Entre dúvidas e certezas
a rechaçar o caminho
traçar paralelas
que se esbarram.

Aproximam-se,
quase nulas,
e contém em si
o significado de um pequeno gesto:

Oculto, como olhos que desvendam-me.

Reconhecer o que está contido nesse ato;
conforta a escolha de uma trilha
que se configura

Branda
Límpida.
Mesmos olhos fitando-me
Em contínuo desvelamento.



Planagem


Atravessar correntezas
Avistar planagens,
agora secas.
Da falta de chuva,
o excesso de sol
que atiça a vista
E cega.

Vista defronte as folhagens
O gume de sal nos olhos
- vento contra o rosto -
Outras paragens.

O lume cobre cada galho
que se desprende,
som das folhas sobre o chão,
o tempo
oco
e a remoção de algo
que ficou:

Mar dentro de mim.



Demolição


Há um duplo.
Em miragem,
refletido,
olhamos o que se deseja
ao lado,
o que se tem.

Quebra cabeça de imagens
correntes
na memória.
O instinto por um fio: duras paisagens.

Solucionar o enigma seria percorrer
o insondável
tempo anterior.

Decifrar o que não se vê: antever ruínas.
Antecipar
o meio fio - linha entre vísceras.

A mim o eco proferido?
Encaixar peças ante o abismo
inexplicável
Do que se diz em segredo.



Recital


Um dia em que não haverá a palavra exata.
O momento chega, em silêncio
Com a noite fresca de inverno
No interior
Da paisagem.

O dia em que a escuridão brilha.
Com feixes de luz
E solicita ao silêncio - uma trégua.

O riso à mesa,
o acaso como traço de um momento
Presente.

Mesmo ato em que, por léguas,
O encontro se fez.
Do Russo, entendo a culpa e o castigo.
Talvez faísca que se entrega
No olhar que se fixa.

Encontro e despedida: entre o instante,
a duração do presente
Como música.



Punhal

A incompreensão do gesto
Ou o tilintar de um olhar perdido
Na memória.

Não existia ali.

Na verdade, quebramos brinquedos novos
à espera de um outro que satisfaça
O vazio:

O amor foi um teste perdido.

Não existia ali.

E a incessante busca por uma brincadeira
Rompeu os laços que havia - trafegam nós

Na garganta

E dor como punhal no estômago
Em busca de redenção.



Poemas inéditos de Fernanda Fatureto. Autora de Intimidade Inconfessável (Editora Patuá, 2014).

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