Hoje acordei com vontade de matar alguém.
Nunca me aconteceu. Foi diferente.
Matar alguém.
Pode ser você. A sua mãe.
A Britney. A mãe da Britney.
Mas acho que estas já são mortas.
E quem é a Britney afinal se até hoje
ninguém se interessou em matá-la?
Minha dúvida é quem fica mais famoso.
O matado ou quem mata?
Matar alguém.
Vou matar e colocar no Twitter,
no Facebook, no MySpace, no Bebo,
no Delicious, no Orkut, no Flickr,
no YouTube e no meu blog.
Sally disse que se eu quisesse,
ela me matava e colocava no Twitter,
no Facebook, no MySpace, no Bebo,
no Delicious, no Orkut, no Flickr,
no YouTube e no blog dela.
Sally é minha melhor amiga e seguidora,
mas às vezes ela não tem graça nenhuma.
Acho que vou matar Sally.
&
Um A é um A é um A.
Sally só tira A em literatura americana.
Enquanto eu só tiro C.
Um C é um C é um C.
Sally tem até uma mosca amestrada.
Esta.
Sobrevoando agora o meu pote de geleia
com a insistência de uma Gertrude Stein.
Só que a mosca de Sally chama-se Sylvia...
Plath!
Não tenho dó de poetas suicidas.
&
Uma guan dao ou um nunchaku? Uma simples dang, ou quem sabe o facão de nove argolas. Dou um gole no meu tencha gelado e fico vendo as opções no monitor. A princesa Lin Wo não foi convidada para o enterro. E a princesa Lin Wo não gosta de ser rejeitada. Não, não. Nadinha. Ainda mais se o motivo é uma mosca nojenta com nome de poeta. Por saber perdoar, a princesa não entende quando não é perdoada. Sally não devia ter feito isso. Não sabe com o que está mexendo. A tática do salame. Ela não conhece. A princesa conhece. Livrar-se do inimigo fatia por fatia. Sim, por que a pressa? Ainda fumegam as cinzas de Pompeia. A princesa senta e espera. Consulta o termômetro. Convém não perder a cabeça. Molha o pão no tencha e lembra das brincadeiras de Sally, sua melhor amiga e mentirosa. Quando brinca com a princesa, Sally diz que só gosta de brincar com menino. A princesa não gosta de brincar com menino. Meninos cheiram a piyan. E por brincar com meninos, às vezes Sally também aparece no quarto da princesa cheirando a piyan. Embora meninas tenham piyan, não cheiram a piyan. Meninos além de tudo não sabem chupar uma bi direito, muito menos um delicado bazi. Eles babam tudo em que tocam. Aproximam-se para beijar logo arreganhando a boca feito passarinho com fome. A língua antes dos lábios. Sôfregos, encharcam todas as flores. A princesa não aprova, conhece a arte dos jardins. Lin Wo aprendeu cedo que quando uma menina deseja outra menina, ela está escolhendo uma boneca. E se um dia cansa de brincar com a boneca, poda seus braços pouco a pouco como um bonsai dizendo que vai ser sua amiga para sempre, é porque da fruta só vai lhe dar o caroço. Sally e seus pés entalhados em garra. O seu falso soul-bizz. A troca de olhar só com as telas de cinema. Quando fala, não tem começo, meio e fim. Ciclo nascimento e morte. É linguagem de fundo. Se diz “focinho de porco”, a princesa não vê o porco passando entre as duas. Se diz “flecha”, a princesa não vê o arco, a linha reta, o ponto. O coração de Sally é como um ovo. A casca é a paixão, a clara é a perda da paixão e a gema, a lei da perda que governa o ovo. Ela não sabe com quem está mexendo. O túmulo da mosca é também o túmulo da princesa. Sally enterrou ontem a mosca e chorou. Mas Sally não sabe o que é a morte. Não basta ver o outro morrer para aprender o que é a morte. É preciso morrer na própria carne para saber. Buscar a morte onde ela estiver. Hormônios e codeína. A terceira pessoa do meu singular.
&
Emily é a minha nova amiga e seguidora.
Emily e a mãe de Emily, o bônus extra.
Odeio mães.
E na minha idade é um golpe de sorte
achar alguém que não tenha mãe.
As duas se espalham na minha jacuzzi, in pieno abbandono.
Emily passa L’Oreal no pictograma de rugas da mãe.
Deplorável.
A sra. Dickinson fuma ganja e joga sua
calcinha de puta no meu centro de mesa Capo di Monte.
Eu não acredito que meu quarto
está fedendo a maconha.
Meus pulmões abrem as asas
mas logo as recolho e mergulho.
Por amor até o meu King Kong
sobe este Empire State Building.