Canção para um dia encaracolado
Se um dia flores a semente
Sol mente brota o amanhã
Pétalas pra que te quero?
Eu vejo azul
Você azuleja
Eles verão nossa roseira
Avoante decola arribada
No sopro leve faz acento
Onde baixa o passarinho
Trampolim gorjeia recital
Berinjela com geada
O floco dispara uma cor no meu quarto
No peito aberto um tiro congela roupa
Entre os dentes aparelhados sou hálito
Tangido pela sede enfastiada em saliva.
Crianças ocupam o asfalto empoçado
O dia tem gosto de berinjela congelada
Observo coisas que ainda não existem
Assim picoto o tempo corado de neon
Salpicando os olhos na perfectibilidade
O inverno cospe uma geladeira por dia
E por dia bordo uma janela com geada
Desbotado
Contrariado! Talvez desconte. Reflexivo
Desbotado do alto agora faço paisagem
O berço se presta ao papel de invólucro
Protege, sustenta, conforta, transforma
Faço de uma tripa o coração da palavra
Tempestade é água arengada num copo
A vida desprende o perfume que alcança o som deslocado pela forma do conteúdo.
Encolhido, no colo de uma estrela pintada um brilho pula e desflora outro universo.
Borboleta de Alfazema
O amor grampeia as coisas
Chuva gruda com alfazema
O olho cola na vista melada
Aroma abotoa no perfume
Borboleta esfria na barriga
O casulo encena jasmineiro
Garoto se embrenha na rua
Texto crescido é testamento
Beijo coloca cheiro no olho
Ternura despreguiça bocejo
Claudio Castoriadis
Ilustrações: Michael Cheval