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Channel: mallarmargens
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"Quererte sem hífen"

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silvia grav

a-mar-a-boca

o mar é aquilo azul-ex-verdeado e mais um bocado, mas o mar, enquanto sucedido pela letra a, expõe o escândalo vermelho-sangue: pulsante, infartável. tem também a boca. dessa eu não sei quase nada, só-sei-que grita. guarda lubrificante, que, indecentemente, chamam de saliva. agora, o que se sabe é que A BOCA É O SEXO DOS QUE SE APAIXONAM. de tudo o que (não) sei, tenho uma imenso desejo de querer. dessa vontade eu sei que não tem cor, também não tem sexo, hífen, acento ou vírgula. minha vontade é espaço e se eu quiser: ex-passo. mas de tudo mesmo, eu quero querer, por que só ter não basta.

Ganido

Querer-te, apenas, imensurável, feito um corno viril estou eu, prostrado, um oceano oposto a ti. Querer-te, apenas, é o que me basta, pois não posso decifrar-me em códigos, lascívia, inteiro chamas. Então afogome sem hífen, e o que não me sobra: auxílio. Pecaminoso, examino o teu toque lisérgico no meu corpo, impermeável: tu não me adentras. Agora, consigo desenhar em teu extenso dorso o mapa de minha dor, mas choro ao te dizer que não cabe. Não cabe também a minha inconstância, meu suor grosso, meu beijo aguado e sofrido. Pálido, externado, me percebo inteiro teu em tua foto; diabo frouxo não reconheço o meu sintoma. De longe, eu, lagarto em parede examino-me inábil e agora minha causa é perdida: você sobre mim. Quererte sem hífen é tentar aproximar minha boca da tua: vácuo. Antes, o imaginar era estritamente poético, traçado de subjetividade, mas agora o que consigo pontilhar são hifens soltos e acometidos, despejados sobre minha carcaça árdua, sôfrega, intensa e ainda poética, presa a ti.





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