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Lenka Simeckova |
"gavita, gavita "
liturgia, cosmo, escarlate todo o meu ser é um poema não escrito
escrevo em adoração ao cosmo
buscando um deus na manhã clara
ele se deixou perder
estendeu seu corpo no seio da noite
as suas mãos eram amoras
alastrando folhas pelo meu peito deserto
sou o desejo da palavra
a gramática ferida com sede do sentido vocabulário desfeito em grotas
colméia de gritos
conjunção de todos os ancestrais
esse poema não foi escrito com a minha voz
alguém o fez anteriormente
semeou migalhas na mesa do verbo
alguém, um peregrino, talvez
o homem com uma igreja fincada no ventre a mulher aberta aos lábios dos deuses
a luz elétrica desceu pelas minhas veias
sangrei lâmpadas na música das horas eram candeias
o sopro do espírito galgando a linguagem
incenso perfumando a vida
sei que estou debruçado à mesa do mundo
uma estrela sacrificada me habitacomigo se alimentam as aves desesperadas
os rios crescem para dentro do poema inaugura os sinos
enquanto os círios engravidam a noite
deus respira o mundo pelas narinas dos místicos
a noite é própria para o esposo
estranha liturgia tem a lua
estendendo os cabelos sobre o sexo do amantes
os jardins se formam nos úteros enamorados
se tornam azeite na esperança da lâmpada
o poema brota no corpo anoitecido
trago o cosmo sustentando por uma flauta.