Ilustração : Litany of the Shades, Art2mys
[condição humana]
da vulva o mundo é convulso.
ao nada rasgou o tudo.
no vácuo que ora ocupo
o trauma do vir oculto.
[o que eu teria dito em meu Bar Mitzvah]
a Lei que me toca é livre
dos livros eternos, voa
das tábuas do vil SInai
aos sinos que a alma entoa.
desnuda a Torah das letras:
יהוה? metáfora da Pessoa.
o Orco? rima canhestra
que num arfar se destoa.
[eleição]
entre
o nada
e a dor:
o entre.
[complexo]
tick tock
sounds the clock
- mas só o do ianque no Iraque.
no éden tupiniquim
relógio douto é assim:
triste traste.
[pesadelo]
chão de asilo
mães n'alzheimer
depõem rosas
necrosadas
são meus males
aos pés
como olhos
por sobre
o punhal
meu consorte
este mar
que evanesce
[comédia]
a ribalta retorcida,
se equipara a vida.
pra retinas fatigadas,
más arlequinadas.
canastrices vaudevilles
de faustos Aquiles.
ante cachaça em palavras,
Ofélias cevadas.
tua engrenagem nos funde,
vil Machina Mundi.
[o inalcançável possível]
fosse-nos dado ver o que a passagem
deixou saltar para aquém do destino
e que se alberga quiçá nesse etéreo
em que lacramos amanhãs olvidos!
pois para isso sim estamos cegos
e os portais do grão saber são cuias
que adensam poças a borrar o senso,
mesmo voltado só para o diante!
e toda espreita se mostra imprestável,
pois não há Hubble que aponte o fora,
não há conceito que evoque o quase,
nem esses versos lhe servem de altar!
[volátil]
estou
a escapar pela tangente
sem raio que me centre
em breve
a letra que conduz
à língua que me prende
escapa
a ideia que me prende
à boca que conduz
em breve
sem verso que me enrede
estou a escapar com o ar
- jamais!
Diego Callazans
Poemas de Nódoa, inédito.