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Nódoa - Diego Callazans

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Ilustração :  Litany of the Shades, Art2mys  



[condição humana]

da vulva o mundo é convulso.
ao nada rasgou o tudo.
no vácuo que ora ocupo
o trauma do vir oculto.



[o que eu teria dito em meu Bar Mitzvah]

a Lei que me toca é livre
dos livros eternos, voa
das tábuas do vil SInai
aos sinos que a alma entoa.


desnuda a Torah das letras:
יהוה? metáfora da Pessoa.
o Orco? rima canhestra
que num arfar se destoa.




[eleição]

entre
o nada
e a dor:
o entre.



[complexo]


tick tock
sounds the clock
- mas só o do ianque no Iraque.

no éden tupiniquim
relógio douto é assim:
triste traste.



[pesadelo]

chão de asilo
mães n'alzheimer
depõem rosas
necrosadas

são meus males
aos pés
como olhos
por sobre

o punhal
meu consorte
este mar
que evanesce



[comédia]

a ribalta retorcida,
se equipara a vida.

pra retinas fatigadas,
más arlequinadas.

canastrices vaudevilles
de faustos Aquiles.

ante cachaça em palavras,
Ofélias cevadas.

tua engrenagem nos funde,
vil Machina Mundi.



[o inalcançável possível]

fosse-nos dado ver o que a passagem
deixou saltar para aquém do destino
e que se alberga quiçá nesse etéreo
em que lacramos amanhãs olvidos!

pois para isso sim estamos cegos
e os portais do grão saber são cuias
que adensam poças a borrar o senso,
mesmo voltado só para o diante!

e toda espreita se mostra imprestável,
pois não há Hubble que aponte o fora,
não há conceito que evoque o quase,
nem esses versos lhe servem de altar!



[volátil]


             estou

a escapar pela tangente
sem raio que me centre

            em breve

a letra que conduz
à língua que me prende

            escapa

a ideia que me prende
à boca que conduz

            em breve

sem verso que me enrede
estou a escapar com o ar

            - jamais!



Diego Callazans


Poemas de Nódoa, inédito.




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